Tema para uma roda de conversa.
Hoje se fala muito em perfil. Seja nas empresas, nas grandes corporações, nos meios políticos, na educação e na igreja. Busca-se o melhor perfil para determinadas situações da vida, do mundo ou dos negócios. Na igreja não é diferente. A busca por líderes que tenham um “bom” perfil é recorrente. O bom líder é aquele que tem “tal” perfil. O problema é saber quem define o “bom” perfil.
Não entrando no mérito, mas já estando envolvido, vou citar o exemplo do que poderia ser identificado como um “bom” perfil. Falo de Paulo de Tarso, mais conhecido como apóstolo Paulo. Para isto, consulto a Primeira carta aos Tessalonicenses (abra a sua bíblia e acompanhe as citações).
O capítulo 2 da Primeira carta aos Tessalonicenses nos ajuda a traçar o perfil deste líder no período da Igreja Primitiva e serve como inspiração para os líderes hodiernos. Para começar esta conversa, devemos lembrar que Paulo fundou a Igreja em Tessalônica no ano 49 d.C., durante a sua segunda viagem missionária. No mesmo ano ele respondeu a duas perguntas que os Tessalonicenses fizeram sobre os mortos e sobre o dia do juízo. Os membros daquela igreja eram trabalhadores (4.11-12): pescadores, empregados da construção civil, peões da agricultura, operários, metalúrgicos, artesãos, marinheiros, desempregados, escravos (que eram muitos na sociedade romana da época).
Uma questão entre eles ganhou importância: alguns membros da igreja faleceram e uma dúvida surgiu entre eles sobre o destino destes mortos. O assunto foi levado para Paulo, pois alguns pregadores estavam ensinando uma doutrina maléfica sobre o assunto e o apóstolo se sentiu impelido a escrever a primeira carta para corrigir os erros e apresentar a sua compreensão do assunto. Em outras palavras, Paulo preocupou-se com os membros da igreja que havia estabelecido em Tessalônica e ajudou-os a lidarem com seus dilemas. Ao responder as indagações, o apóstolo considera a diversidade entre a membresia da igreja e a conjuntura social, econômica, política e religiosa que vivenciam nos anos 50 da Era Cristã.
Uma pergunta nesta conversa: Como Paulo estabeleceu uma comunidade cristã num contexto tão diverso e com pessoas oriundas de diferentes situações de vida? A resposta está no “perfil” do apóstolo. Sugiro os seguintes aspectos a guisa de ponderação sobre liderança cristã:
1. O apóstolo deu atenção às inquietações dos membros da igreja. Dar atenção é dar ouvidos, é ouvir o clamor, ouvir além das palavras, ouvir a emotividade, é ouvir o “interior” das pessoas e caminhar com elas em qualquer circunstância da vida;
2. Paulo mostra ter desenvolvido um ministério compartilhado e divide com seus companheiros as glórias e as honras do trabalho realizado. Assim ele inicia a carta mencionando Silvano e Timóteo (1.1). Sem dúvida nenhuma, Paulo era o líder maior e a quem cabia a responsabilidade de dirigir o grupo missionário. Mas ele mostra esta característica de não trabalhar sozinho;
3. Paulo demonstra também otimismo e agradecimento pela vida dos Tessalonicenses (1.2). Podemos extrair 4 blocos de ação de graças presentes no texto de I Tessalonicenses:
a) ação de graças pela vida dos Tessalonicenses - 1.3-10;
b) pela vida dos Apóstolos - 2.1-12;
c) pela vida dos Tessalonicenses - 2.13-16 e
d) pela vida dos Apóstolos - 2.17-3.8;
4. Revela interesse pela vida dos Tessalonicenses mencionando-os sempre nas suas orações (1.2; também 2.13, 3.9). Como líder daquela igreja não deixava de agradecer a Deus pela vida do seu rebanho e de orar por cada um deles. No texto de 2.17-20 revela seu interesse de rever os Tessalonicenses;
5. Revela respeito e consideração pelas pessoas que o acolheram em Tessalônica e que acolheram o Evangelho, expressando que eles são a sua alegria, a sua esperança, a sua coroa e a sua glória. Com estas palavras, o apóstolo manifesta a sua afetividade pela igreja dos Tessalonicenses e abre seu coração para expor seus sentimentos. Ao fazer isto, se revela uma pessoa com emotividade, afetividade, responsabilidade e respeito pela diversidade que havia naquela comunidade.
Fica a pergunta: seria este um “bom” perfil para a liderança hoje? Quantos/as líderes estariam dispostos/as a desenvolverem este perfil em seus ministérios?
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