Judeu e arábes, Jean-Leon Gerome |
Judeus-cristãos são cristãos de origem judaica, judeus natos
ou prosélitos. No início formavam a maioria, mas durante a primeira geração
cristã, antes do ano 70, foram superados numericamente pelos gentios-cristãos.
Os judeus-cristãos não formavam uma
unidade bem definida; na bibliografia científica o termo judeu-cristão não
indica sempre o mesmo grupo.
Costuma-se distinguir:
1- Judeus-cristãos que não viviam segundo a lei mosaica,
principalmente os chamados helenistas Estevão, Barnabé, Paulo; (I Co
7.18; Gl 5.3); outros “helenistas”, porém, opunham-se a essa forma de
cristianismo (At 6.9-14; 9.29);
2- Judeus-cristãos que observavam fielmente a lei mosaica,
sobretudo na Palestina, nomeadamente em Jerusalém; líderes desse grupo eram
apóstolos, principalmente Pedro, João e Tiago, o “irmão do Senhor” (Gl 2.9; Hb
1.23.10); não consideravam a observância da lei mosaica como necessária para a
salvação (Gl 2.15-21; At 15), mas, mesmo fazendo abstração de seu amor pessoal
ao templo e à lei, o respeito pelas instituições tradicionais era necessário
aos judeus-cristãos no clima político da
Palestina de então, para poderem viver;
3- Judeus-cristãos que exigiam também dos gentio-cristãos a
observância da lei mosaica. Estes eram os judaizantes;
4- Judeus-cristãos heterodoxos, sob forte influência
gnóstica. Neste artigo tratamos sobretudo do grupo anteriormente mencionado.
As fontes para o nosso conhecimento dos judeus-cristãos são
muito escassas, sobretudo no que diz respeito ao período mais antigo. As
tentativas para reconstruir a vida e a doutrina da primeira comunidade de judeus-cristãos
a partir da literatura pseudo-clementina na sua forma original, ou para deduzir
de alguns escritos do cristianismo primitivo uma teologia judeu-cristã, que
teria precedido à teologia “eclesiástica” posterior, não podem ser
qualificadas, sem mais nem menos, de bem sucedidas. Assim sendo, o material
principal continua a ser o próprio Segundo Testamento. Também para os escritos
do Segundo Testamento é difícil datá-los e determinar o ambiente de origem e
eventuais fontes mais antigas.
Até à destruição de Jerusalém a liderança da comunidade
primitiva não foi discutida pelos outros cristãos (Paulo em I Ts 2.14; I Co 16.1.
Devia o seu prestígio em grande parte ao fato de ser governada por
"irmãos do Senhor” ôsojtóoirvoi:
depois de Tiago, Simeão e em seguida descendentes de Judas. Partindo de Jerusalém,
foram fundadas comunidades judeu-cristãs na Palestina (At 8), em Damasco (At 9)
e ainda na Fenícia, em Chipre e Antioquia (At 11,9); a relação entre judeus-cristãos
e gentios-cristãos nessas últimas
comunidades fica obscura; provavelmente variava segundo as circunstâncias (Gl
2.11-13). A comunidade de Jerusalém emigrou antes de 70 para Pela; mais tarde,
depois da helenização de Jerusalém por Adriano, em 130, viveram espalhados
pela Galileia, Transjordânia e Pereia. Daí parecem ter missionado em direção ao
Oriente, nomeadamente nas comunidades judaicas de Osrhoene e Adiabene, e no
Egito.
A seita de Qumran parece ter tido influência em círculos de
judeus-cristãos, sobretudo na corrente intransigente que mais tarde degenerou na
seita herética dos Ebionitas. Esse último grupo, porém, não pode ser
considerado como uma autêntica continuação da comunidade de Jerusalém. No seu
conjunto, essa teve sempre uma atitude mais aberta diante da questão da
admissão dos gentios ao cristianismo.
Fonte: Dicionário Enciclopédico da Bíblia, A. Van Den Born
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