A botija quebrada, Jeremias 19.11 - Autor não identificado |
Você entrou na minha vida. Usou e abusou,
fez o que quis. Nesse trecho da sua poesia, Jorge Aragão, indubitavelmente,
teve como parceiro o profeta Jeremias. Imagino que não haja ninguém na história
da humanidade que declare este sentimento com palavras com mais propriedade do
que este que empresta seu nome a um dos mais inspirados livros da Bíblia.
Qualquer pessoa que ler o capítulo 20, a partir do verso 7, desse livro vai
encontrar logo de cara o seguinte lamento: Ó Senhor Deus,
tu me enganaste, e eu fiquei enganado. Tu és mais forte do que eu e me
dominaste. Todos zombam de mim, caçoando o dia inteiro. Na sua Bíblia pode
estar Tu me seduziste, mas a intenção
do autor é dizer o quanto foi manipulado e quanto a sua vida foi vilipendiada tão
logo assumiu o encargo de falar em nome de Deus. Manipulado foi, não por uma
companheira, como se expressa o poeta brasileiro, mas por Deus.
Tudo o que segue é um breve relato dos seus infortúnios que
se deram em várias situações. Fosse na cisterna de lama podre onde foi jogado
para morrer; no tronco, onde foi chicoteado; na prisão, quando jazia esquecido
ou mesmo no seio da sua família e dos amigos mais chegados, quando lhe aramaram
ciladas. Não tem como alguém que atravessando tamanha tribulação não venha a
lançar imprecações sobre si mesmo: Maldito
seja o dia em que eu nasci! Esqueçam o dia em que a minha mãe me deu à luz! Maldito
seja o homem que alegrou o meu pai quando lhe deu esta notícia: “É menino! Você
tem um filho!” Jeremias 20.14
Entretanto, todo aquele que continuar lendo os capítulos
finais do livro e conhecer um pouco da história de Jeremias, vai lhe responder na
lata: Sabe nada, inocente. O Jeremias
jeremiado não faz a menor ideia do que lhe espera antes e depois da sua morte. Vamos
fazer também um breve relato dos fatos que se seguiram.
Quando Nabucodonosor invadiu Jerusalém deu uma ordem
expressa ao seu oficial superior: Vá
buscar Jeremias no cárcere. Podia bem para que fosse violentamente morto na
presença do imperador babilônico pelas duras palavras que havia dirigido contra
ele. Mas não foi assim que aconteceu. O general tratou Jeremias na pontinha dos
dedos e disse-lhe. Jeremias fique bem à
vontade para decidir. Se você quiser ir conosco para a Babilônia será tratado
como um rei, mas se quiser ficar ou ir para outro lugar ninguém aqui vai
impedi-lo. Isso é: Jeremias viu em vida o poderoso Nabucodonosor, cheio de
medo, curvar-se à sua vontade, tão somente porque reconheceu que neste profeta habitava
o espírito do Deus de Israel. Logo ele, aquele que dizia que nem deveria ter
nascido.
Mas não é apenas isso. Poderíamos lhe dizer também: Jeremias, daqui a dois mil e seiscentos anos
as pessoas ainda vão estar falando a seu respeito e conhecerão você muito mais
que conhecem o próprio Nabucodonosor ou qualquer outro tirano que tenha se
levantado contra Israel. Nesse tempo, pelo menos metade da população desse
planeta terá lido as suas palavras. Alguns bilhões conhecerão a sua vida e a
sua obra profundamente. Alguns milhões pregarão sobre as suas profecias e as terão
como fonte inspiradas pelo próprio Deus. Esse mesmo Deus a quem você dirige seu
lamento. Milhões de meninos correrão pelas ruas sendo chamados pelo seu nome.
Jeremias, você deveria ter prestado mais atenção
na letra do seu parceiro musical, pois o Aragão começou dizendo assim: Não...
pra que lamentar o que aconteceu... Sabe
nada, inocente!
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