Lugar de negro

Campanha Lugar de Negro é em Todo Lugar
Estou plenamente de acordo com a campanha que diz “Lugar de negro é em todo lugar”, e muito à vontade para falar do assunto, pois este blog nunca manifestou qualquer sentimento racista ou se apresentou contrário à igualdade de direitos entre pessoas de raças diferentes. Porém, devido à grande quantidade de manifestações de pessoas negras favoráveis e contrárias às comemorações do Dia da Consciência Negra, peço a sua licença para abordar o assunto.

O que mais me surpreendeu nisso tudo foi a posição divergente de pessoas negras de grande projeção na mídia mundial. Algumas delas afirmando que é uma comemoração que acirra ainda mais a discriminação, pois não deveria existir uma consciência negra e sim uma consciência humana. Quer contra ou favor, eu acredito que as pessoas de ambas as facções almejam ver o fim da discriminação ainda em vida, mas que o melhor seria mesmo para a semana que vem.

Vasculhando a Bíblia, não sei se bem se este o termo apropriado, encontrei no livro de Daniel, um livro que considero mais apocalíptico do histórico, alguns elementos que estabeleceram certas vantagens para um grupo que estava sendo discriminado na corte do rei Nabucodonosor. Embora este rei já estivesse comendo capim pela raiz quatrocentos anos antes do livro de Daniel ser escrito, prevaleceram alguns conceitos que deveriam ser apreciados pela consciência negra enquanto o sonho não se torna realidade.

Em Daniel 1.9 lemos: Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se. Esse é um princípio bem básico: não se deixar contaminar.

Primeiramente pelo estigma que prevalece há milênios. Quando eu fazia natação, isso nos anos de 1970, o pensamento corrente nesse esporte era esse: um negro nunca será campeão de natação, pois seu biótipo não permite grandes desenvolturas na água. Na Olimpíada de Seul, em 1988, na prova dos 100m borboleta, as câmeras acompanhavam a performance do favorito Matt Biondi, quando, estranhamente do outro lado da piscina, bateu na frente dele um negro do Suriname chamado Anthony Nesty. O desconcerto dos organizadores da prova foi tão grande, que não havia sequer uma bandeira daquele país para ser hasteada acima das outras. Nesty não se deixou contaminar pelo estigma.

Recentemente vi uma foto de uma criança negra sendo penteada pela mãe, enquanto esta lhe dizia: seu cabelo é lindo. O ideal de uma forma, de uma cor, de um estilo sempre foi ditado por aqueles que tinham poder para fazê-lo.  Para que se avalie com justiça este conceito, basta lembrar que os egípcios, povo africano, já fazia implantes do tipo megahair no cabelo de suas mulheres, isso há 3.300 anos. Logo na África, onde é o cabelo espesso que garante proteção adequada contra os raios solares, a índole discriminatória do homem já contrariava a natureza. É bom que esta menina seja criada assim, para que se sinta à vontade para usar o cabelo que melhor lhe convier na sua juventude.

Mas o que tem me chamado a atenção ultimamente é o apelo que políticos e fundamentalistas religiosas estão fazendo aos negros para que abandonem a fé cristã, pois esta sempre lhe causou malefícios. Este é mais um preconceito a ser superado no seu nascedouro. Em um país, que segundo as estimativas, possui 84 milhões de negros cristãos confessos, o que precisa ser descontaminado não é a fé em Cristo, mas são os conceitos que se firmaram na religião ao longo da nossa história. Eis alguns deles:

Não aceitar jamais um Cristo loiro de olhos azuis.

Acreditar que o que acreditamos ser bom no Cristianismo se pauta em profundas influências de teólogos negros africanos.

Que a cor do pecado não é negra, e que a boa alma não é branca.

Jamais admitir que a sua raça descende de um povo amaldiçoado por Deus, porque a maldição de Cam é uma proposta temporal do Judaísmo, com a qual Jesus Cristo jamais compactuou.

Refugar de todas as maneiras com veemência o título de negro de alma branca.

Antes de ser qualquer coisa no âmbito profissional, social ou religioso, ser negro.

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