Sinais evidentes do passado

Pessach, www.cartoesjudaicos.com

Será que já houve um deus que resolveu ir tirar do meio de outra nação um povo para ser completamente dele, como o Senhor, nosso Deus, fez com vocês? Vocês viram como ele mostrou o seu poder e a sua força; viram como ele, por meio de pragas e milagres maravilhosos, de guerras e feitos espantosos, tirou vocês do Egito. Deus deixou que vocês vissem tudo isso para que soubessem que o Senhor é Deus; não há nenhum outro deus, a não ser ele. Deuteronômio 4.34-35

Se existe uma realidade que atravessou os séculos, em que se baseou a teologia dos profetas de ambos os Testamentos e que deve ser tão testemunhada pelos filhos de Deus nos dias de hoje como foi por aquelas pessoas do Êxodo, é essa: nós éramos escravos no Egito, e Deus, o nosso Deus, nos tirou de lá com mão poderosa e braço estendido.

Nós éramos muito tristes porque que tínhamos o controle das nossas vidas nas mãos de uma nação opressora, genocida e cruel. Que não era uma nação qualquer, mas simplesmente a maior potência bélica de seu tempo. O viver e o morrer era determinado por um ser humano que era considerado como a maior presença de qualquer divindade sobre a terra. Ou seja: através dos nossos antepassados nós vivemos a situação mais encalacradas que seria possível ser vivida. Nem mesmo os horrores do Holocausto puderam superá-la em gravidade e desesperança. Nem qualquer outra desgraça que se abateu sobre o nosso planeta nos assolou por um período tão extenso.

Por todos esses motivos é que qualquer tentativa de nos aproximarmos de Deus deve partir da premissa que o nosso Deus é um deus libertador e que não precisa provar mais nada para que soubéssemos que o Senhor é Deus; não há nenhum outro deus, a não ser ele. Mas parece que, assim como fez o escritor do Deuteronômio, nós precisamos ser, por repetidas vezes, lembrados desse fundamental elemento da nossa fé. Parece que a nossa relação com Deus se baseia tão somente nas coisas que ele pode fazer por nós, e não mais no que ele já fez por nós.

Uma outra coisa que está diretamente ligada ao evento do Êxodo e que ambos os Testamentos fazem questão de registrar é que Deus fez o que fez exclusivamente pelo amor que ele nos ama. É o próprio deuteronomista quem primeiro traduz em palavras essa realidade: Dt 7.7 - Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava. Na sua primeira carta, João também registra esse fato, só que mais simplicidade e veemência: I Jo 4.19 - Nós amamos porque ele nos amou primeiro.

É igualmente triste constatar que esta é mais uma realidade da qual precisamos ser constantemente lembrados. Nossos hinos, a maioria das nossas pregações assim como boa parcela das orações que fazemos não levam em conta esse dado. Exaltamos um deus que é refém dos nossos dízimos, da nossa adoração e dos nossos louvores. Um deus que escolhe não mais por amor, mas por mérito, e algumas vezes até mesmo por insistência.

O salmista, no mais conhecido dos Salmos, deixa bem claro: O Senhor é o meu pastor, e nada me faltará. O Senhor é o meu pastor e eu não preciso de mais nada. Nos verdadeiros encontros com Deus, que muito provavelmente não se darão às margens do Jordão ou em cima do Horeb ou de qualquer outro monte, serão mais parecidos com aquele que a criança da multiplicação dos pães teve com Jesus. Ela encontrou em Jesus uma presença tão acolhedora que nem teve coragem de pedir nada, senão dar tudo o que possuía. A um Deus libertador não se deve pedir muita coisa, a não ser aquilo que realmente expresse a sua ação libertadora nesse mundo.

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