Quem foi JUDAS? II

O suicídio de Judas, Von Carolsfeld
Judas Barsabás
Jesus, filho de Simão, como em Jo 6.71, conforme a maioria dos manuscritos, talvez erroneamente, apelidado de Iscariotes, nas listas dos apóstolos sempre colocado no último lugar (M t 10.4; Mc 3.19; Lc 6.16), acrescentando-se “que o traiu” (Mt e Mc) ou “o traidor” (Lc).

Os Evangelhos sinóticos narram de Judas apenas as suas negociações com o Sinédrio (Mt 6.14-16), a sua atitude na Última Ceia (Mt 26.25) e o beijo da traição (Mt 26.48-50). Mateus acrescenta os seus remorsos e sua morte (27,3-10). A traição de Judas foi para a Igreja primitiva um problema, cuja solução se tentou por diversos caminhos. Mt 20.6-16 e Mc 14.3-11 apontam a falência de sua fé em Jesus como Messias (Jo 12.4-6. João 6.67-72 sugere que a incredulidade de Judas já se fixou depois do sermão eucarístico; aí Jesus chama o descrente de diabo. Judas, segundo João, havia seguido Jesus por motivos de um messianismo terrestre; agora que Jesus rejeita uma realeza nacionalista, terrestre (Jo 6.51), exigindo fé em valores espirituais, Judas recusa.

Embora tivesse rompido internamente com Jesus, por fora tudo continuou como antes. Acresceu a desonestidade: Judas tirava dinheiro da bolsa comum (Jo 12.4-6). Na sua descrença e movido pela ganância, Judas atendeu a ordem dos sacerdotes chefes e fariseus, denunciando o paradeiro de Jesus (Jo 11.56); pela traição pediu trinta moedas de prata (Mt 26.15s). Lucas e João relacionam a traição de Judas com a luta de Satanás contra Jesus (Lc 4.13). Na Última Ceia Jesus falou três vezes sobre o traidor em termos gerais (Jo 13.10, l8 e 20; Mt 26.21-24), depois o indicou para João, entregando ao traidor o pão embebido. Quando Judas perguntou se era ele o traidor, Jesus respondeu que sim e o mandou embora sem que os demais discípulos o compreendessem (Jo 13.23-29); assim narram Mateus e João.

Muito discutida é a questão se Judas estava presente na instituição da Eucaristia; a mais antiga tradição, dos primeiros séculos, nega este fato; vários Doutores da Igreja desde Cirilo de Jerusalém afirmam isso. Só Lucas narra a indicação do traidor (Lc 22,21-23) depois da instituição da Eucaristia, Mateus e Marcos, antes. Lucas, porém, faz isso por causa das normas literárias de sua composição: justapõe imediatamente a nova páscoa à antiga, abandonando a ordem cronológica.

Com uma grande multidão (a coorte romana, a guarda do templo, servos e membros do Sinédrio) Judas foi ao Getsêmani, traiu seu Mestre e o beijou, fingindo amizade ou, talvez, arrependimento (Mt 26.47-50; Jo 18.2-9). Vendo, pela sentença do Sinédrio, que Jesus ia ser executado, Judas, tomado de remorsos, quis devolver as moedas de prata aos sinedritas; quando estes as recusaram, lançou-as pela praça do templo na direção do santuário e se enforcou (Mt 27.3-5). De maneira diferente os fatos são apresentados em At 1,18. Aqui é um parêntese no discurso de Pedro, que certamente não é dele, pois supõe uma época posterior (conforme a expressão “na língua deles”).

A Vulgata traduz jiqtiviÍç por suspenso, outros autores, tentaram harmonizar esta versão com a de Mateus, admitindo que, depois de enforcado, o corpo tenha caído, partindo-se ao meio. É mais natural, porém, supor que é o prematuro desejo de ver o crime de Judas visivelmente punido, conforme o merecido. Os narradores teriam dado essa notícia muito sombria, acerca de sua morte, de uma forma em que a mão de Deus fosse tão evidente. Isso devia naturalmente levar a diversos modos de apresentar as coisas. 

De fato, conservou-se ainda uma terceira tradição: conforme Pápias; Judas teria inchado de modo monstruoso, e apodrecendo vivo. Se jtorvri; era realmente um termo médico usado para inchação em consequência de infecção, poderia haver uma relação entre a tradição de Pápias e At 1.18. Mas tal sentido não foi provado. Tanto em Mateus 27.3-10 como em At 1,18 a morte trágica de Judas é relacionada a um pedaço de terra, chamado em At 1.19 e, na Vulgata, também em Mt 27.8 de Aceldama, ou Campo de Sangue. De acordo com Mateus 27,7 esse nome dever-se-ia ao fato de que o campo fora comprado com o dinheiro da traição. Jacquier e Keulers entendem, neste sentido, que Judas o comprou para si, baseados no relato de Atos 1.18, que é para eles uma figura de oratória. Outras interpretam At 1,18 literalmente: no seu próprio campo Judas teria se suicidado e por isso o povo o teria chamado “Campo de Sangue”. Não é impossível, no entanto, que tal nome tenha existido antes (Jr 2.23; 19.2-6 e nos Setenta em Mateus 27.7), sendo ligado com a morte de Judas por uma etiologia cristã.

Existe uma semelhança tipológica sobre Judas entre as narrativas do Segundo Testamento e as ideias do judaísmo posterior a respeito de Aquitofel; a ambos aplicava-se Sl 41.10: Tu, porém, SENHOR, compadece-te de mim e levanta-me, para que eu lhes pague segundo merecem.

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