Saque ao templo de Micas, autor não identificado |
Este refrão que acompanha todo o livro de Juízes nos relata com
exatidão as consequências que decorrem dos cultos que são prestados a Deus
indevidamente pelo seu povo. Isso se deu tanto pela falta de governo, quantos
pelas decisões particulares, onde cada um fazia o que achava correto.
O capítulo 17 de Juízes traz um relato que pode
contextualizar todo o livro, bem como nos dar detalhes e requintes das heresias
que são praticadas em nome do consenso, da espiritualidade individual e da
utilidade prática. A saga de Mica de Efraim é tão atual que mais parece uma
leitura extraída do jornal de ontem, apenas com uma sutil diferença: o relato
de Micas na Bíblia é único, enquanto que os seus paralelos entre nós se
multiplicam e cada vez mais aperfeiçoam a sua bizarrice.
Tudo começa quando Mica consegue um dinheiro de forma ilícita
e resolve fazer um templo exclusivo para si. Não um templo a um deus qualquer,
mas dedicado a Iahweh, Deus de Israel. Sua primeira decisão é equipar o templo
com um ícone novo e diferente. Um símbolo que expressasse toda a sua liberdade de
inovação e criação. Não havia rei em Israel, então tudo era válido.
Sua segunda e brilhante decisão foi investir um dos seus
filhos como sacerdote do templo. A coisa toda teria que ficar na família. É
mais do que evidente que novo império estabelecido teria forçosamente que permanecer
entre os seus descendentes. Não muito diferente do que se faz hoje em dia. Mas
parece que este bom filho não herdara a sagacidade do seu pai, e coisa não ia
muito bem, até que se deslumbrou uma alternativa: um levita que perambulava em
busca de cidade em cidade em busca de uma “boquinha” para se estabelecer passou
justamente por ali, e Mica o consagrou sacerdote supremo, bispo primaz,
apóstolo e outros predicados superlativos.
Mas esperem, ele era apenas um levita. Alguém designado a
servir no tempo de todas as formas, mas não dirigi-lo. Isso era incumbência de exclusiva
de pessoas que tinham linhagem e escola sacerdotal. O que importa? Ele era o
mais disponível num raio de quilômetros. Então, combinaram uma grana e tudo ficou
acertado. Afinal: não tem tu, vai tu
mesmo. Não me espantaria se me dissessem que é daí que vem este ditado.
As tantas semelhanças que já vimos já nos acomodariam bem no
nosso século, mas elas não pararam aí. Um grupo grande passou pela região e confiscou
as imagens, os utensilio, e de quebra o Sumo Sacerdote de Micas. Este,
relutante, ainda contestou: Ele me
empregou aqui, e eu lhe sirvo de sacerdote. Reparem agora no magnífico
desfecho. O chefe do grupo justificou o confisco, dizendo: Vale mais para ti seres sacerdote da casa de um homem do que sacerdote
de uma tribo e de um clã de Israel? Isso é lá pergunta que se faça?
Não preciso dizer que o sacerdote abençoou todos os desígnios
da tribo, e esta seguiu seu curso como se tudo estivesse bem.
Não tenho uma palavra final para o que foi descrito. Assim como
não vejo exemplos mais claros do que acontece hoje em dia. Só queria ressaltar
uma única coisa: não havia rei em Israel. Minha avó dizia: quando o gato não está o rato sobe na mesa.
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