Atenienses zombam de Paulo, Raffaello |
Na última sexta-feira tivemos mais uma edição da Marcha para
Jesus. Coincidência ou não, como sempre acontece, um dia imediatamente após o
feriado católico de Corpus Christi. Por isso me pergunto: seria essa mais uma manifestação
em que o movimento neopentecostal faz em contrariedade contra às doutrinas e
práticas dos cristãos católicos, uma festa autêntica da cristandade evangélica moderna,
ou uma excelente oportunidade para os seus promotores angariarem membros dentre
os já convertidos de outras denominações?
Gostaria de começar analisando uma severa crítica que uma
ex-paroquiana de uma pastor amigo fez contra ele, quando, em uma análise rápida
e circunstancial, fala do negativo do
cerne da mensagem desse movimento. Disse ele: É muita gente, sem dúvida, e poderia fazer uma grande diferença na
sociedade, dados os muitos anos do evento e o alcance. Mas não faz, porque eles
mesmos falam que o mundo está perdido, e a sociedade não tem mais jeito. Ao
que a referida dama retrucou com palavras de ordem como: fiquei triste vendo um pastor ser contrário a um movimento cristão; eles pelo menos estão fazendo alguma coisa,
pior é quem malha e não faz; e a melhor de todas: quem não tem nenhum erro, que atire a primeira pedra.
Curioso notar que, além de considerar o colega pastor um dos
mais sérios e exímios pregadores da nova geração, tenho notícias de que nas
igrejas por onde passou deixou saudades e muita indignação pela sua saída. Mas
eu sei que nada disso conta. Conta mesmo o que os apóstolos, bispos e missionários
dizem, e o que o povo neo-evangélico quer ouvir, mesmo que isso seja em
detrimento das verdades do evangelho.
A antiga máxima do não julgar para não ser julgado, usada
hoje em dia para justificar delitos evidentes, mais uma vez entra em voga.
Neste caso, de forma ainda mais contundente, pois vem respaldada pelo dogma da
intocabilidade do ungido do Senhor, que, em última análise, é ainda mais herética
do que a infalibilidade papal. Fruto da mais perfeita exejegue contemporânea, pois se a última diz que o Papa não erra, a
primeira sacraliza os erros mais absurdos e iniquidades mais flagrantes.
O que me entristece não é ver um ateu desesperadamente
tentar provar incoerências na Bíblia. Eu sei que eles estão errados. Me
entristece mesmo é vê-los com provas irrefutáveis da canalhice da bandidagem que
lidera a maioria das igrejas promotoras do evento. Eu tenho que admitir que
eles estão mais que certos.
Paulo foi de uma felicidade rara ao escrever este pequeno
versículo, pois ele coloca debaixo dos propósitos de Deus até mesmo as críticas
mais severas à sua Palavra. Ouso dizer que incluídos estão também aqueles que
fazem piadas com as atitudes e práticas verdadeiramente cristãs. Meu pai dizia
que quando Deus manda até o diabo obedece. Mas não vejo nele qualquer aval a
uma marcha impulsionada por intenções tão escusas.
No velho português este movimento melhor se chamaria Marcha
pára Jesus.
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