Jesus em Nazaré, Paolo Veronese |
Iludem-se aqueles que pensam que o evangelho progrediu mais
quando as circunstâncias o favoreciam, quando encontrava ventos favoráveis e
portas abertas. Pelo contrário. O evangelho foi mais fecundo e sua mensagem
mais eficaz quando as torrentes lhe confrontavam e encontrava portas que se
fechavam incontinentes na sua frente.
Bater com a cara na porta deveria ser a consequência que
mais deveria enobrecer o discípulo de Jesus em sua missão de pregar o evangelho,
isso deveria ser o seu real galardão. Falo isso não fundamentado em teorias de conspiração ou por
apostar no caos, mas baseado em dados históricos bem concisos, repetidos e comprovados
ao longo da História da Igreja.
Podemos muito bem dividir o ministério do apóstolo Paulo em
duas fases distintas: antes e depois do seu sermão no Areópago. O seu
verdadeiro entusiasmo na missão e a certeza de estar pregando uma doutrina
segundo os ensinamentos de Cristo lhe vieram depois que os atenienses lhe
bateram com a porta na cara. Confira em Atos dos Apóstolos 17.32-33: Quando ouviram falar de ressurreição de
mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos
noutra ocasião. A essa altura, Paulo se retirou do meio deles. Após fazer
um sermão belíssimo. Um sermão que se adequava perfeitamente ao ambiente, e
ainda sentido-se derrotado, saindo dali foi para Corinto com uma pregação
totalmente diferente da que havia feito em Atenas. Com a porta na cara ele viu
que tinha que trocar o discurso da razão pela loucura da cruz de Cristo. Mais
tarde, na primeira carta que escreve à mesma igreja de Corinto onde essa
transformação se processou, ele dá por escrito este seu testemunho: Eu, irmãos, quando fui ter convosco,
anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou
de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado.
Fato semelhante se deu também com John Wesley. Quando as
portas de todas as congregações anglicanas se fecharam para ele e para a sua
mensagem transformadora, ele dirigiu para as portas das minas de carvão. Foi a partir desse grave inconveniente que ele
mudou o foco do seu ministério de pastor de membros de igreja para pastor de
todas as pessoas. Foi aí que ele afirmou com toda a convicção: o mundo é a
minha paróquia. E esta experiência de Wesley, que produziu resultados imediatos,
foi lindamente imortalizada em um sermão de Jorge Whitefield: Ao contemplar o mosaico de rostos humanos
enegrecidos pelo carvão das minas enquanto pregava, ele via as listas brancas
que se abriam à força das lágrimas naquelas faces sujas.
Mas talvez nenhuma experiência de rejeição tenha sido tão
dolorosa quanto a que Jesus viveu entre os seus familiares e amigos de infância.
O Evangelho de Marcos, no capítulo 6 registra: Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas
e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se nele. Jesus,
porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus
parentes e na sua casa.
E não é que foi a partir dessa derrota em casa que ele
resolveu comissionar setenta missionários para a evangelização de todo Israel?
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