Bodas de Caná, Gerard Davi (1460-1523) |
Todo mundo tem medo de ser julgado. Isso é um paradoxo. Quando nós queremos fazer o certo, nós nos tornamos juízes do bem e do mal. Óbvio que é assim. Se não fizermos esse julgamento, como escolheríamos entre o bem e o mal? Quando queremos condenar o mal ou louvar o bem, nos tornamos peritos julgadores. Quando temos a necessidade de desmascarar os maus e honrar os justos, tornamo-nos moralistas. Não existe outro jeito, é um paradoxo mesmo. Por conta disso, nós os protestantes tradicionais somos os bons moralistas, a reserva moral da nação, ou danação, não sei bem. Sabemos bem o quanto é bom se achar bom e o quanto faz bem imaginar que está fazendo o bem. O nosso viver no orgulho protestante é constantemente julgar o errado. É impossível para qualquer um de nós não fazer isso. O que não percebemos é que é essa atitude de julgamento que nos faz tão medrosos. É justamente essa atitude de julgamento que nos divide, na nossa vida secular, na nossa própria casa, e na nossa igreja.
Quantos casamentos são destruídos por causa do medo de ser julgado? Obsevem a noiva antes do casamento, o quanto está radiante. Mas por quê? Por causa do milagre do amor romântico? Pode ser, mas há também um milagre está acontecendo. Ela encontrou o homem que não a desaprova. A noiva tem a coragem de contar ao seu amado tudo que vem à sua mente. Ela se abre e conta os seus segredos mais íntimos, coisas que jamais contou a alguém. O seu amado, por sua vez, responde com sinceridade que ela é magnífica, inteligente e encantadora, e da mesma forma lhe expõe toda a sua vida, ou pelo menos quase toda. Isso acontece quando nos sentimos cercados de amor e confiança. Acontece quando não nos sentimos julgados pelos outros.
O problema é quando a Lua de Mel acaba. Quando a esposa nota que o seu marido é bastante egoísta, e ele é. Quando o marido se dá conta de que a esposa se mete em tudo o que ele faz e que fala demais sobre o que não conhece, e ela fala mesmo. Agora um começa a ver o outro como ele é e é aí que começam os julgamentos. Não há mais confissões, não há mais confiança. Cada um se fecha em si com medo do julgamento do outro. Ninguém revela mais as suas fraquezas com medo que isso se volte contra si. Cada um se esmera em reunir provas, se especializa em julgar e se acha pronto a condenar. É aí que o amor acaba.
Da mesma forma nos imaginamos diante de Deus. Imaginamos que ele está sempre pronto a nos julgar e a nos condenar. Para nós ele nunca deixou de ser aquele olho sem pálpebra que está sempre aberto e vigilante. Para nós ele nunca deixou de ser aquele Senhor severo e inflexível. Para nós ele nunca foi verdadeiramente Pai.
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