Dar a Cesar

Diga: é ou não é contra a nossa Lei pagar impostos ao Imperador romano? Devemos pagar ou não? Mas Jesus percebeu a malícia deles e respondeu: Por que é que vocês estão procurando uma prova contra mim? Tragam uma moeda para eu ver. Eles trouxeram, e ele perguntou: De quem são o nome e a cara que estão gravados nesta moeda? Eles responderam: De Cesar. Então Jesus disse: Dai a Cesar o que é de Cesar, e a dai Deus o que é de Deus. Marcos 12.14ss
Dai a Cesar, Paul Ruben em 1612
O dinheiro não é apenas um meio neutro de pagamento. O que fazemos com o nosso dinheiro diz muito sobre nossas vidas. Como lidar com o dinheiro mostra também a nossa forma de entender o poder. Por isso nós não gostamos de falar dos gastos inadmissíveis que fazemos, é embaraçoso mesmo. Mas quando se trata de pagar imposto é que realmente a coisa fica complicada, porque não se trata apenas de nós. Existe uma justiça por trás do tributo que é a base fundamental da nossa sociedade. Mas sabemos também que pessoas e empresas usando truques fiscais totalmente legais, não pagam impostos, enquanto as pessoas que vivem de salário, arcam com pesadas cargas tributárias. Alguém tem que pagar pelo desenvolvimento, pelas estradas, hospitais, polícia, escolas etc. Podemos até negociar politicamente através do voto, mas se estamos envolvidos, não há como ser indiferente a esta questão.

As tropas de ocupação romanas exigiam impostos escorchantes e puniam severamente quem se rebelasse. Jesus se viu diante de uma pergunta capciosa: Segundo o evangelho que ele pregava, é justo fazer um pacto com os romanos. É permitido por Deus o imperador receber o imposto ou não? No reino de Deus é legal dar dinheiro a um poder pagão? Se ele dissesse simplesmente não seria um rebelde perigoso, um criminoso que não paga impostos. Se dissesse sim, seria um traidor do povo. Jesus aproveita a oportunidade para mostrar aos seus discípulos que nem tudo é uma questão de sim ou não. Mostra também que as injustiças devem ser questionadas nas causas e não nos resultados.

Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. O que exatamente essas palavras significam? Elas dizem que é preciso aprender a distinguir que é de Deus e o que é do mundo, pois são coisas diferentes. Essa resposta lembra, antes de tudo, uma realidade, ou seja, o poder político é uma verdade, sendo ele bom ou ruim não importa. Ele é uma realidade que tem uma história que não é somente obscura e terrível, mas que também tem aspectos bons: estradas, mercado de trabalho, segurança, enfim a Pax Romana, da qual tanto se valeu o evangelho para se propagar pelo mundo.

Mas Jesus acrescenta um extra: Daí a Deus o que é de Deus! Enquanto alguns extremistas dizem que tudo é teologicamente de Deus, Jesus rompe esta alternativa simplista e formula uma missão na vida: dar. Nem tudo é política e nem tudo pode ser teológico. Há uma realidade maior do que a política que não é dominada por ela. Aprende a distinguir é urgente. Júlio César foi o primeiro governante romano que exigiu ser adorado como um deus, e isso é negado por Jesus: Dai a Deus o que é Deus, o que lhe pertence! É essa a declaração mais importante: O que vamos dar a Deus?

Os seres humanos são criaturas de Deus, tudo o que temos nos é dado por empréstimo. Há empréstimos que nos foram confiados com liberdade, para usarmos nosso poder criativo. Mas há aqueles, como o dinheiro, que temos responsabilidades. Empréstimo sem responsabilidade é o que queria César, e é aqui que César difere do aprendizado de Jesus. O que você está fazendo com sua vida? Você acha que tem um trabalho que ultrapassa a si mesmo e ao seu ego? Quem está pensando sobre a responsabilidade que temos com o dinheiro, com as propriedades e com a liberdade?

A melhor interpretação deste texto nos veio de um pai da igreja, Tertuliano, que o interpretou da seguinte maneira: A moeda na qual tem a imagem do imperador, em última análise, é de propriedade do imperador, portanto, Dai a César o que é de César. Isso significa levar a sério a realidade social, pagar impostos, dar parte de si para a sociedade. O homem todo, no entanto, que é a imagem de Deus, e pertence a Deus. Nós somos uma moeda estampada com imagem de Deus, portanto, a nossa tarefa é viver esta semelhança.

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