O Contrário dos Pastores Eletrônicos

Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente. Salmo 16
Pedro e Simão, o mago, Avanzino Nucci (1552-1629)
Texto do rev. Jonas Rezende.

Gore Vidal, no seu romance Messias, escrito em 1947, logo após as explosões das primeiras bombas atômicas no Japão, que terminaram com a Segunda Guerra Mundial e marcaram o início da chamada Guerra Fria, fazia uma análise negativa daqueles anos de tensão entre o bloco americano e o soviético, com a aguda investigação que esse escritor sempre se mostra capaz. Mas o enredo do seu romance detecta também um desses indigestos pastores eletrônicos que prometem verdadeiros milagres, à semelhança do que acontece com certos pastores brasileiros que transformam a vida religiosa em um balcão de vergonhosos negócios e em uma pregação incompetente e mentirosa.

Davi parece preocupado, Np presente salmo, com essa gente que, já em seu tempo, trocava o Senhor por outros deuses. E o poeta diz textualmente: os meus lábios não pronunciarão os seus nomes... Bendigo ao Senhor que me aconselha; pois até durante a noite o meu coração me ensina...  Pois não deixará a minha alma na morte nem permitirá que o teu Santo veja corrupção – pensamento que a Igreja vê como referência profética a Jesus. O salmista conclui seu poema dizendo: tu me farás ver os caminhos da vida.

Com base nesse salmo, no Saltério e na Bíblia como um todo, é possível dizer que, para participar do caminho vivo e verdadeiro que nos coloca face a face com Deus, é preciso, depois da graça divina, que tenhamos coragem de dar alguns passos. Até porque o amor divino não exclui a nossa participação, como resposta.

Primeiro a humildade do despojamento. Como Sócrates, que dizia: sou sábio porque nada sei. Acima de tudo e de todos, à semelhança de Jesus que, no entender de Paulo, na carta aos filipenses, se esvaziava da sua glória e se tornava servo de todos os homens, faria bem para nossa vida um olhar para Albert Schweitzer, um gênio entre os leprosos de Lambarene, na África. E o aprendizado definitivo com o pobrezinho de Assis. Tudo tão diferente do cínico e engomado mercador descrito por Gore Vidal.

Mas é indispensável também dizer um não ao moralismo e a hipocrisia, se quisermos trilhar o caminho vivo que Davi menciona no seu salmo. Fazer como Cristo, que não tinha escrúpulos de comer com pessoas desqualificadas, e tratar por senhoras as prostitutas – aliás, o mesmo tratamento que dispensava à sua mãe. Uma releitura da parábola conhecida como O Bom Samaritano certamente nos ajuda a atingir o cerne do problema, em direção visceralmente oposta à proposta pelos pastores eletrônicos da vida.

Mas, para participar do caminho vivo que nos fala o salmista, é sobretudo essencial uma relação direta e existencial com Deus, coisa que jamais parece acontecer com os pastores eletrônicos, suas gracinhas, as atitudes lesivas e a superficialidade do que dizem, em meio a um sorriso estúpido e alvar.

Ao mergulhar no tema proposto pelo salmo de Davi, a mim é impossível não relacioná-lo à afirmação de Jesus no Evangelho que recebo como um verdadeiro desafio: eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim.

Por que não aceitá-lo como nosso?

Esta pergunta é também para você.

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