Judas, quem é quem?

Judas se retira da Última Ceia, Carl Bloch (1834-1890)
Na Bíblia encontramos além daquele que gostávamos de malhar no Sábado de Aleluia, outros tantos Judas, mas nem todos merecem carregar a mesma sina trágica que este nome evoca. Aliás, Judas naquela época era um nome tão comum como o de Jesus, pois é uma derivação de Judá, que é o nome de um dos doze filhos de Jacó, ou Israel, se preferirem.

Dentre os judeus, o mais famoso e aclamado é sem sombra de dúvida Judas Macabeu, o terceiro filho do sacerdote Matatias, Aquele que por volta do ano 160 a.C. iniciou a revolta contra o domínio selêucida sobre a nação de Israel. Judas Macabeu foi o grande herói desta revolta, por isso, o segundo canon bíblico traz o seu nome em dois dos seus mais importantes livros. Tem no seu currículo vitórias sobre os grandes generais de Lísias e sobre o próprio Lísias, quando reconquistou Jerusalém e de lá retirou a estátua de Zeus colocada por ordem de Antíoco IV, depois de saquear o templo, fato que ficou conhecido na Bíblia com a “desolação da abominação”. Judas Macabeu não somente livrou Israel do jugo grego, como também ampliou as suas fronteiras até a Síria. Foi morto numa batalha contra os sírios, que só foi perdida por que não recebeu a tempo o apoio prometido pelo exército romano.

Temos também Judas Tadeu, o apóstolo que ficou conhecido pelo nome de Tiago, que segundo a tradição protestante seria o meio irmão mais velho de Jesus, filho de um casamento anterior de José. João distingue-o claramente do Iscariótes quando escreveu: Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo? (Jo 14.22) Segundo esta mesma tradição foi ele e não Pedro o sucessor de Jesus na direção da igreja primitiva. Esta conclusão é baseada na sua capacidade de decisão, mostrada no Concilio de Jerusalém como palavra final: Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras: (At 15.13) Também é o escritor de uma belíssima carta dedicada aos judeus recém convertidos ao Cristianismo.

Outro grande herói de Israel foi Judas, o Galileu. Aproveitou-se do descontentamento que gerou o recenseamento ordenado por Quirino para promover uma revolta contra os romanos: Depois desse, levantou-se Judas, o Galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. (At 5,37) Tem em sua conta a conquista da fortaleza de Séforis, depois da morte de Herodes Magno. Foi morto por seus companheiros, mas o movimento fanático-religioso, iniciado por ele, que se baseava numa teocracia absoluta, reconhecendo unicamente o governo de Deus, não se extinguiu com a sua morte, tornando-se, posteriormente, o partido dos zelotes.

Existiu também um Judas que morava em Damasco. Desse, alem do nome, temos também o endereço, pois Lucas disse que morava na rua Direita, local onde Paulo ficou hospedado depois da sua conversão na estrada que levava àquela cidade: Então, o Senhor lhe ordenou: Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita, e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando. (At 9.11)

Mas o nosso grande Judas é mesmo o Iscariotes, um dos doze discípulos de Jesus. Pouco falado nos Sinóticos, é completamente execrado por João, de quem herdamos toda a antipatia. Não é para menos, pois para aquele que dizia ser o discípulo amado de Jesus, ver alguém diferente dele ocupando o cargo de maior confiança, a tesouraria do ministério de seu mestre, era algo que não seria recebido com muita simpatia. Tem a seu favor que na chamada traição de Jesus, não coube a ele o terrível delito de entregá-los aos romanos. Judas entregou Jesus aos Sinédrio, algo que deveria obrigatoriamente ser feito, caso flagrasse alguém infringindo a lei, o que Jesus fez claramente quando expulsou os vendilhões do templo. Essa tal entrega era recompensada com trinta moedas de prata, algo estabelecido há algum tempo.

Não se sabe bem porque este inspira tanto ódio. Talvez, pela sua semelhança com a palavra judeu, tenha estendido a todo este povo um preconceito quase que mundial. Mas o fato é que juntamente com ele fomos perdoados por Jesus na cruz. O mais curioso é que cometemos exatamente o mesmo pecado que Judas cometeu: não sabemos o que estamos fazendo com Jesus.

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