S. Francisco orando, Murillo (1618-1682) |
Existe a confissão. Na confissão contamos a Deus os nossos pecados e erros, lhe dizemos que estamos verdadeiramente doloridos por eles e lhe pedimos o perdão. Na confissão, duas coisas têm que andar juntas. Trata-se da imprescindível busca do auto-exame e uma firme honestidade para conosco mesmos. Existe certa debilidade que trata de ocultar as coisas, não só a nossos semelhantes mas, inclusive, a nós mesmos e a Deus. Ele, porém, esquadrinha o coração dos homens e conhece de sobra nossos pensamentos; para Ele nada está oculto ou encoberto. Pode ser que perguntemos : “Se Deus já sabe tudo, por que tenho que lhe contar ? Se Deus me ama e, sobretudo, quer perdoar-me, por que tenho que pedir-lhe perdão ?” Temos que pensar em termos humanos pois são os únicos que conhecemos. Quando uma criança faz algo mal, o pai sabe e, é claro, quer perdoar-lhe. O pai sabe também que o filho está arrependido do que fez. Em que pese tudo isto, porém, existirá uma barreira invisível entre o pai e o filho até que este último venha por sua própria vontade e diga: “Perdoa-me, eu errei”. Então a barreira desaparece e o amor novamente resplandece à luz do sol. Assim ocorre entre nós e Deus. “Se confessamos nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar nossos pecados e nos purificar de toda a injustiça “ (I Jo 1:9).
Ainda nos resta adicionar algo. A confissão sem emenda é algo truncado. Devemos fazer uso do amor perdoador de Deus, não como uma cômoda desculpa para o pecado mas como um iniludível desafio e obrigação ao bem. O menino diz : “Perdoa-me; tratarei de não voltar a fazê-lo”. Nós devemos fazer o mesmo. Existe a Ação de Graças. A ação de graças é o produto da gratidão lógica do coração. Há três classes de ação de graças. Existe a que damos por Jesus Cristo, o maior e melhor dom de Deus aos homens. Existe a ação de graças por todos os meios de graça, por todas as grandes alegrias e maravilhas da vida e, ainda, por todos os dons que Deus nos tem dado e que nos ajudam a enfrentar os grandes momentos de nossa vida. Existe porém uma terceira classe de ações de graça. Um dos grandes perigos que enfrentamos na vida consiste em considerar as pessoas e as coisas, que se acham inseridas em nossa própria estrutura vital, unicamente como meros elementos da paisagem e simples partes do quadro essencial da vida. Há dons que recebemos com regularidade a cada dia e dos quais esquecemos sua condição de bênçãos. Temos que ter gratidão por eles.
Quando pensamos no que seria a nossa vida sem as pessoas e objetos que nos rodeiam a cada dia, chegaremos à conclusão de que o dia inteiro não seria suficiente para dar graças a Deus por eles. Existe a petição. A petição é aquela parte da oração na qual pedimos a Deus as coisas de que necessitamos para viver. Ela nasce o sentido da nossa própria insuficiência e da compreensão da plena suficiência de Deus. Aqui, outra vez, se impõe o autoexame pois o homem tem que tomar consciência de sua necessidade de ajuda e de cura antes que possa pedir por elas. É na petição que a oração se converte na prova máxima e na verdadeira pedra de toque. Nela propomos a Deus as nossas esperanças, nossos sonhos e desejos. Toda vez que algo é posto ante a presença de Deus, seu verdadeiro caráter se põe em evidência. Nas ocasiões em que trazemos a Deus alguma inquietude é comprovamos que ela tem pouca importância. Costuma ocorrer, quando expomos a Deus algo que nos preocupa ou no qual havíamos posto todo o nosso coração, que percebemos o seu justo valor e observamos, então, que não se tratava de coisa tão importante. Às vezes, quando apresentamos algo a Deus, compreendemos quão incorreto era pedir por aquilo e o mal que havia em desejá-lo. Uma das primeiras perguntas que devemos formular-nos sobre qualquer coisa é: “Posso pedir por ela?” Com a resposta afirmativa, quando levamos uma inquietude à presença de Deus, comprovamos que, na verdade, trata-se de algo ao qual podemos dedicar nossos esforços e a nossa vida.
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