Peste em Ashdod, Nicolas Poussin (1584-1665) |
Não é um nome muito comum na Bíblia, pois muito poucas referências históricas à sua importância são nela mencionadas. Outras cidades "santas" e outros lugares consagrados obtiveram maior notoriedade tanto nas narrativas quanto nas lembranças da tradição judaica. Mas como disse um pensador facebookano: Tudo vem com um propósito e vai por uma razão. Não é a toa que os judeus da Bíblia evitaram tanto falar sobre esta cidade e sobre o que aconteceu com ela no passado.
Silo era uma cidade ao norte de Betel e pertencia como herança à tribo de José, mais especificamente ao seu filho Efraim, o preferido do seu avô Jacó, ainda que o primogênito fosse Manasses. Este é um episódio bem interessante contado em Gn 48. Narrativas nos livros de Samuel nos dão conta de que foi em Silo ou Siló em que se erigiu o primeiro prédio de alvenaria onde a Arca da Aliança foi guardada, rompendo com a tradição da Tenda ou Tabernáculo, tornando-se assim o primeiro local de adoração com aspecto de templo. Ou seja, um templo ao Deus de Israel construído há duzentos e cinquenta anos antes de Salomão erguer o seu em Jerusalém.
É aqui que a coisa começa a ficar estranha. Alguém poderia dizer por que um templo construído bem antes do templo de Jerusalém teve a sua lembrança apagada da história? Como alguma nação pode se esquecer da sua primeira capital? Teriam algum motivo os narradores hebreus para omitirem o registro dessa construção que foi um nítido sinal de evolução na civilização dos nômades recém libertos da escravidão egípcia? Mas como diz a sabedoria popular: Filho feio não tem pai, e Silo esconde um passado feio e triste. Uma ferida não cicatrizada na história de Israel. Uma tragédia não digerida, um incômodo acontecimento que, excetuando o Salmo que faz uma rápida citação, poucos profetas tiveram a coragem de trazer à tona. Poucos não, somente Jeremias, mais para frente falaremos sobre ele.
O que aconteceu de tão trágico em Silo? Silo foi também o último acampamento coletivo das tribos do norte. Dali partiram para dividir as regiões ainda não ocupadas de Canaã, ou seja, um centro de poder bastante relevante para Josué e seu exército. Talvez o local mais bem guardado e seguro de toda a nação. Não havia, portanto, local mais apropriado para os judeus guardarem o seu mais precioso bem. A Arca da Aliança era o sinal mais visível de que Deus estava com eles, e de que Deus lutava ao lado deles. Mas a Arca era mais do que isso, pois ela simbolizava também uma aliança que jamais fora cumprida por parte do povo do qual, pela fé, herdamos usos, costumes, literatura, credos e, principalmente, desobediência.
Pois bem, foi neste lugar supostamente bem guardado por Deus, e efetivamente guardado pelo exército judeu que aconteceu a primeira grande derrota deste povo. A cidade foi invadida e destruída pelos filisteus, o templo foi arrasado e saqueado, e o símbolo maior da nação, a Arca da Aliança, confiscada pelos invasores. Pela primeira vez, desde a sua construção, a Arca não estava mais eu seu poder. O símbolo da presença de Deus estava em mãos estrangeiras, repousava agora em um templo pagão.
Pois bem, foi neste lugar supostamente bem guardado por Deus, e efetivamente guardado pelo exército judeu que aconteceu a primeira grande derrota deste povo. A cidade foi invadida e destruída pelos filisteus, o templo foi arrasado e saqueado, e o símbolo maior da nação, a Arca da Aliança, confiscada pelos invasores. Pela primeira vez, desde a sua construção, a Arca não estava mais eu seu poder. O símbolo da presença de Deus estava em mãos estrangeiras, repousava agora em um templo pagão.
Muito embora trágico este foi sinal muito mal interpretado pelo povo de então, como também pelas gerações que se seguiram até nós. Para eles, a ausência daquele símbolo representava que Deus havia abandonado seu povo e rompido unilateralmente a aliança. Para eles, Deus estava sendo injusto em não cumprir com as suas promessas. Para eles, o símbolo era maior do que aquilo que ele representava. Para eles, assim como para nós, o templo, de certa forma é uma garantia de que Deus está aprisionado, fazendo com que aquele lugar seja um local onde ele dá plantão de vinte e quatro horas, sempre pronto a nos atender em todas as nossas necessidades e desejos. Para eles, assim como para nós, o templo é maior do que Deus, tanto é assim que imaginamos que Deus cabe todo lá dentro. E é aqui que Jeremias entra profetizando contra um templo muito maior e muito mais concorrido que o de Silo. Anunciando para o magnífico Templo de Jerusalém o mesmo fim trágico de Silo: posto que até aqui não me ouvistes, então, farei que esta casa seja como Siló e farei desta cidade maldição para todas as nações da terra. (continua)
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