Os novos pais heróis

Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos. I Coríntios 4.11-13
Jonatham Edwards pregando sob vaias, autor não identificado
Muito embora nunca tivesse apelo semelhante ao do Dia das Mães, o Dia dos Pais deste ano está sendo destacado pelas fraquíssimas vendas de presentes no comércio varejista. Logicamente que não faltam motivos políticos e financeiros para justificar essa queda nas vendas, mas no que diz respeito à celebração da data nas igrejas cristãs, os motivos da depreciação da figura paterna, e, consequentemente, o descaso da comemoração provém de razões bem diferentes.

Há pouco mais de uma semana este blog publicou uma meditação que provocou uma indignação recorde. Justamente a meditação em que a atuação pastoral foi questionada conseguiu um número de acessos dez vezes superior aos dias em que o blog tem uma quantidade de acessos bastante razoável. E é aqui que identifico uma das razões citadas no cabeçalho da meditação: a supervalorização da figura pastoral perante às suas comunidades de fé. Especificamente nos casos em que os pastores têm afanosamente assumido funções que extrapolam em muito a de guia religioso para a qual foi vocacionado pelo evangelho. Uma distorção que está afetando drasticamente a relação pastor-igreja, e trilhando caminhos muito perigosos.

Quero deixar registrado que uma das pessoas que mais frequente e contundentemente questionou as minhas palavras é filha de um pastor, que, com certeza quase que absoluta, não tem para com o próprio pai uma deferência sequer parecida com a que mostrou ter para com o seu pastor, posto que nem mesmo a sua igreja, que é da mesma denominação, frequenta.

De quem seria a culpa desta distorção? Sem medo algum de errar eu diria que são dos próprios pastores, que têm se deixado levar por adulações impróprias ao cargo que ocupam e têm aceitado louvores e predicativos que absolutamente não lhes cabem.

Não consigo encontrar na Bíblia algo meramente semelhante, pelo contrário. Os pastores das comunidades primitivas da fé eram duramente questionados e seus ministérios viviam debaixo constante críticas e julgamentos por parte dos fiéis. Temos o exemplo de Paulo que, não somente se indispôs contra comunidades inteiras, tal como aconteceu com as igrejas de Corinto, Éfeso e da Galácia, como também com os seus companheiros de evangelismo: Barnabé, Marcos, Demas, Crescente e Tito. João do Apocalipse, por sua vez, não gozava de muita popularidade, uma vez que se dirigia às sete igrejas que pastoreava de forma tão agressiva que até as colocava em situações vexatórias a ponto de serem vomitadas. Mas foi justamente este ministério que deu certo. Quando os pastores davam a cara a tapa, quando colocavam os membros acima da sua autoridade pessoal, e quando consideravam a si lixo mundo e escórias do universo. A Igreja de Beréia foi considerada excelente porque investigava a fundo tudo o que seus pastores lhes diziam: At 17.11 - Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.

Mais uma vez recorro a João Batista para dizer qual é a postura ideal de um pregador do evangelho: importa que ele cresça e eu diminua, porque vejo um futuro nebuloso para esta igreja. No momento em que qualquer deslize destes pastores que vá de encontro às expectativas destas igreja, fato que tem como regulador do tempo o “quando” e não o “se”, fatalmente essa igreja sofrerá uma abrupta queda. Mas ainda existe algo pior, algo que a perspicácia de Leonard Ravenhill identificou muito bem, quando disse: Esta geração de pregadores responderá por esta geração de pecadores.

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