Isto vos servirá como
ultimato: Encontrarei um bebê indigente enrolado em trapos e deitado num coxo.
Lucas 2.12 (tradução livre)
Se existe uma saudação com a qual eu, durante o transcurso
da minha vida, não pretendo fazer a mais ninguém é essa: Feliz Natal. Somente
quando você está ou se coloca no lugar do sozinho, do aflito e do desvalido é
que pode perceber o quanto são vazias essas palavras e o quanto elas são inócuas perante a realidade que é o cotidiano dessas pessoas, mesmo que proferidas por
bocas sinceras e debaixo das melhores intenções.
Feliz o quê? Natal? O que significa Natal para toda essa
gente que apenas pode contemplar à distância, com seus olhos banhados em
lágrimas do desespero, algumas imagens nebulosas da euforia irracional de uma
festa que há muito já não reflete qualquer dos sinais que foram emitidos a
partir daquela antiga e humilde manjedoura, para não dizer coxo.
Feliz como? Qual seria a receita, a oração, a mandinga, a
fórmula ou a equação que pode sinalizar um fio de esperança para aquele que não
está enxergando ou para aquele que nunca enxergou qualquer possibilidade de
mudança que lhe possibilite um Natal minimante suportável, quanto mais feliz?
Feliz quando? Talvez essa seja a pergunta crucial. Quando
vamos aprender que Natal não é nada disso? Que Natal, antes de ser uma festa, é
um momento de profunda introspecção, de total despojamento e de irrestrita
solidariedade? O Papa Francisco em uma homilia no final do ano passado
profetizou muito sabiamente: Este pode
ser o último Natal para a humanidade. Não foi o último e pode não ter sido
o penúltimo, mas é certo que a iniquidade que transita livremente em nosso meio
não é menor do que a de Sodoma e Gomorra, e nem nos nossos templos há mais justiça
e fidelidade do que no Templo de Jerusalém reduzido a escombros por Tito,
seguindo rigorosamente o que havia sido prescrito por Jesus.
Haverá um Natal para o Zé? Esta é uma peça teatral que
assisti já faz algum tempo, muito embora a pergunta ainda continue sem
resposta.
Ps: Exclusivamente por esses e outros motivos que não
respondi a qualquer saudação nesses últimos dias. O outro motivo é que até os
ateus estão me desejando Feliz Natal!
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