Encontro com a excluída dos excluídos

Jesus e a mulher samaritana por Bernardo Strozzi
De quem é o crédito pela conversão dos primeiros a acreditarem em Jesus pelo testemunho pessoal? Paulo? Alguns dos 12 apóstolos? Quem sabe um dentre os 70 discípulos enviados a evangelizar? Nenhum destes. A mulher samaritana, como podemos constatar na confissão dos seus compatriotas: Agora não é mais por causa do que você disse que nós cremos, mas porque nós mesmos o ouvimos falar. E sabemos que ele é, de fato, o Salvador do mundo. (Jo 4.42)
Logo ela, a abominável entre os excluídos dos judeus. Jesus a encontra à beira de um poço numa hora imprópria. A única hora que restava para que os párias de uma sociedade tida como iníqua pelas leis judaicas pudessem ter acesso à água.
Por favor, me dê um pouco de água. Fico tentando imaginar o tom humilde desse pedido, pois se a mulher tivesse notado o mais tênue sinal de discriminação naquele diálogo, teria dado meia volta e deixaria Jesus com sede e falando sozinho. Bom, falar sozinho é a especialidade do cristão que hoje gasta milhões em programas de televisão, em cruzadas evangelísticas e concentrações de fé.
O segundo ponto relevante é a oferta de Jesus: Se você soubesse o que Deus pode dar e quem é que está lhe pedindo água, você pediria, e ele lhe daria a água da vida. (Jo 4.10) Nessa até ela se desconcertou: O poço é fundo hein? A oferta não é apenas absurda por si só, mas inexequível pelo pedido anterior: Como é que você vai me dar água se você não tem nem pra si mesmo? Isso faz parte do aceitar para ser aceito. Do dar e receber. Do mar e ser amado, coisa estranha nos arraiais da fé atual.
João vai fazer do encontro com a samaritana é o encontro primordial de. Parece que ele vem num crescendo: Jesus encontra o poder da lei, na figura do fariseu Nicodemos; Jesus encontra os oprimidos pela religião, na figura dos seguidores de João Batista; Jesus encontra os excluídos pelo poder, na figura de uma mulher, uma adúltera e samaritana. Pelo visto, não escapou ninguém do jogo: nem os que ganham, nem os que perdem, como também os que nem podem entrar no jogo.
É importante ter em mente que Jesus nos pede gestos simples, como o de dar e receber um pouco d’água, mas exige de nós uma postura de fé grande o suficiente para crer que este gesto pode transformar uma vida, e através desta vida converter toda uma cidade.
  

Leitura: João 4.1-42

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