Olho no olho

Batismo negro, Charles Carol Coleman 
Amem uns aos outros com o amor de irmãos em Cristo e se esforcem para tratar uns aos outros com respeito. Rm 12.10

Como precisamos do reconhecimento dos outros, não é fato? Este texto é de uma abordagem cirúrgica. O nosso reconhecimento do valor de uma pessoa começa quando lhe restauramos o seu senso de valor como indivíduo, como ser humano. A encarnação de Cristo, a sua entrada na nossa história, é o ato de reconhecimento total de Deus àqueles que têm feito tudo para se separar dele.

Jesus era muitíssimo hábil em reconhecer o valor da pessoa, principalmente aquelas pessoas que não eram percebidas pela comunidade religiosa de seu tempo. Os publicanos, os gentios, as prostitutas, os ladrões, os pecadores todos. Jesus olhou para essa gente não apenas com olhar de compaixão, mas também com apreciação. Jesus tinha piedade deles, sem dúvida, mas ele tinha muito mais que piedade. Ele amplamente valorizou as suas perguntas, ele celebrou os dons e as graças que encontrou nas pessoas. Isto é reconhecimento.

Jesus reconhecia o povo fazendo-lhe sentir que ele valia seu tempo e seu cuidado. Nos evangelhos, Jesus gasta muito tempo, aliás, a maior parte do seu tempo atendendo os necessitados. Abra as páginas do Segundo Testamento e veja o que está escrito: eles estavam doentes, eles eram aleijados, eles estavam assolados pelo mal, eles estavam com fome, eles estavam com sede, eles estavam cansados. A grande maioria dos que o seguia estava necessitada de ajuda urgente. Eles tinham transformado a sua aparência em vontade franca. Eles eram importunos. Eles tinham tanta fome pelo homem de Nazaré que o seguiam por onde quer que ele fosse. Eles se empurravam para tocá-lo. Eles deixavam suas cidades gritando por socorro. Eles carregavam os seus doentes. Eles os empurram em carrinhos, os trazem nos braços, os descem dos telhados. Os que estavam perdidos o louvam extravagantemente.

Às vezes Jesus ia embora para outra cidade, esse era o seu ministério, mas Jesus nunca os dispensa, ele nunca os despreza. Ele valoriza a sua necessidade. Ele valoriza também a sua necessidade de expressar essa necessidade. Jesus aprecia a importância deles.

Tudo em Jesus nos estimula. Veja em Mateus 7.7-8: Peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todos aqueles que pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate. Para tal insistência, Jesus era sempre resposta.

Mas Jesus reconhecia o outro também mostrando a sua necessidade própria. O povo precisava de Jesus, mas Jesus também precisava do povo. Ele tinha dependência os discípulos, especialmente do círculo íntimo de discípulos. Tinha necessidade daquela família de Betânia, em cuja a casa se hospedava todas as vezes que lá ia. Sua citação graciosa daquela meretriz na casa de Simão, o fariseu, sua visita para cear na casa de Zaqueu, tudo isso mostra a carência de Jesus dos outros e o seu reconhecimento da importância deles. Essa é a lição mais preciosa para a igreja: o quanto nós precisamos uns dos outros. Uma visão completamente diferente da que temos hoje. São poucas as igrejas cujos membros reconhecem a necessidade mais elementar: a necessidade entre os membros da mesma igreja. Mas o que está rolando mesmo é igreja sem comunidade, onde a necessidade premente recai sobre um pastor, bispo, apóstolo ou sobre outro iludido qualquer.

Como nós precisamos uns dos outros? Jesus mostrou. Paulo também. Uma de suas cartas mais fantásticas é justamente uma das primeiras que ele escreveu: I Tessalonicenses. O tom dessa carta e tão afirmativo quanto encorajador. Fala aos cristãos de Tessalônica que eles têm sido um exemplo paras os cristãos da Macedônia e da Grécia: Em I Ts 1.8 Paulo fala que a fé deles era reconhecida em todos os lugares. E depois ele fala do que era realce na sua fé: I Ts 2.7-8 - Mas, quando estivemos com vocês, nós fomos como crianças, fomos como uma mãe ao cuidar dos seus filhos. Nós os amávamos tanto, que gostaríamos de ter dado a vocês não somente a boa notícia que vem de Deus, mas até mesmo a nossa própria vida. Que prova de reconhecimento! Paulo os amava tanto que quando partiu para Atenas mandou Timóteo para consolá-los. Quando Timóteo retornou trouxe a notícia de que os tessalonicenses lembravam de Paulo com carinho e que tinham muitas saudades. Por todo esse reconhecimento Paulo escreve: Assim, irmãos, em todas as nossas dificuldades e sofrimentos o que nos animou foi a fé que vocês têm.

A recíproca também é verdadeira, pois penso que nada encorajou mais aquela igreja do que a confissão de Paulo declarando a necessidade que tinha deles. (continua)

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