O que é METÁFORA?

Visões de Zacarias, Domenico Ghirlandaio
A natureza e a vida fornecem ao homem certas imagens e comparações concretas para exprimir os seus pensamentos, sobretudo para esclarecer verdades que transcendem os sentidos. Tal metáfora ora limita-se a uma palavra ou expressão, ora estende-se por uma unidade literária maior (fábula ou alegoria).

Os limites entre as diversas formas de metáfora são muitas vezes flutuantes: de um exemplo ou uma comparação passa-se para uma metáfora como indicação misteriosa de coisas ou pessoas. A linguagem da Bíblia é sobremaneira rica em metáforas, o que se explica pelo fato de que foi escrita por orientais, que estavam mais perto da natureza do que o homem moderno e que tinham muito menos disposição para o pensamento abstrato do que os gregos. Isso se reflete na própria língua hebraica, que é pobre em termos abstratos.

Para o nosso gosto, não apenas as partes poéticas, mas também a prosa da Bíblia muitas vezes está sobrecarregada de metáforas. Os profetas usam não poucas vezes toda uma série de chavões, que provam a existência de uma tradição literária. Essa abundância de metáforas às vezes impede a compreensão exata do texto, porque a relação entre a imagem e a coisa por ela indicada às vezes é bastante arbitrária. Em muitos casos o autor quer, pela convergência e acumulação das imagens, dar ao sentimento, à imaginação e ao pensamento, uma orientação, uma sugestão antes do que um objeto bem definido.

Outra dificuldade está no fato de que as metáforas se referem a formas de cultura e costumes de vida tão diferentes dos nossos. Todos os setores da vida, todos os aspectos da natureza forneceram material para as metáforas bíblicas, mas o ambiente e a cultura do autor tiveram um papel muito especial. Os trechos mais antigos refletem o nível cultural do seminômade ou do agricultor em Canaã (o cântico de Débora). No tempo dos reis é a vida militar e política que aparece mais no primeiro plano.

O pastor Amós descreve nas suas profecias a natureza; Isaías, o profeta da capital, tira às suas imagens também da vida urbana. As parábolas de Jesus não se podem compreender plenamente sem algum conhecimento da vida na roça, na Palestina. São Paulo, nascido numa cidade, usa para as suas metáforas, de preferência, os diversos setores da cultura helenístico-romana (esportes, vida militar, jurisprudência).

Da linguagem figurada propriamente dita (metáforas, metonímia, comparação) devemos distinguir o pensar (contemplar) e falar em imagens representadas como realidade; isso forma um gênero literário à parte. Basta lembrar as visões proféticas (visões de Zacarias) e apocalípticas. O Apocalipse de João não é "metáfora", mas uma visão continua de imagens, uma contemplação de realidades visionárias. Esse modo de contemplar e se exprimir, tão importante para a compreensão da mentalidade bíblica, se encontra também em livros que não pertencem diretamente ao gênero visionário. Também certas sentenças de Jesus no 4° Evangelho (Eu sou a Luz, a Vide verdadeira, etc.) não são pura e simplesmente o que nós chamamos de linguagem figurada.


Fonte: Dicionário Enciclopédico da Bíblia - A. Van Den Born

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