Trabalhadores da última hora, Rembrandt. |
Texto baseado em sermão do rev. Garrison.
As histórias de Deus nas Escrituras muitas vezes são
espetaculares e algumas são até escandalosas. São histórias de adultério, de traição,
de conflitos em família, rivalidade, inveja. Elas são histórias de reis
furiosos, administradores fraudulentos, de gente trabalhadora, de investidores
extorquindo. Elas são histórias de impostos, de guerra, casamentos de vida e
morte. Além de serem seculares e desconcertantes, as parábolas de Jesus são
cômicas e são um meio de graça.
As pessoas que tentam negociar com Deus, aqueles que exigem
favores especiais, aqueles que se julgam merecedores do amor e da misericórdia dele
por meios dos seus esforços e por suas boas obras, eles simplesmente ficam
frustrados e caem no ridículo. Os primeiros trabalhadores dessa parábola, que tinham
trabalhado o dia inteiro ficaram pasmados e perturbados, e nós também. Já os
trabalhadores da última hora, que não tinham direito algum à misericórdia e ao
amor, eles ficaram extasiados em recebê-los. Essa é a matemática de Deus. É
assim que Deus age.
Mas é bom que observemos o contexto em que ela foi contada.
No capítulo anterior, Simão Pedro vem a Jesus com a seguinte pergunta: Nós deixamos tudo e seguimos o senhor. O que
é que nós vamos ganhar? Boa pergunta! Pedro estava preocupado com a
recompensa que os discípulos iriam receber por terem andado com Jesus desde o
início. Certamente Jesus iria tratá-los de modo especial, não é? Certamente
Jesus tinha guardado bênçãos especiais para os seus amados, não acham? E qual
foi a resposta de Jesus? Nós a encontramos nessa parábola, que é o nosso texto
de hoje. Jesus disse que ia fazer justamente o oposto do que Simão Pedro estava
esperando. Ele pagaria aos discípulos a mesma quantia que ele iria pagar aos
que chegassem ao Reino nos acréscimos da prorrogação, que chegassem na última
hora. Esse é o ensinamento da parábola.
É importante notar que o dono da vinha contratou trabalhadores
sem se preocupar com a hora, e em três grupos distintos. Primeiramente, aqueles
que chegaram cedo, com quem ele negociou uma quantia. Eles tinham uma vantagem
enorme para negociar com o patrão. Uma vantagem que os seus companheiros
tardios não possuíam. Um moeda de prata era um pagamento mais do que justo por
um dia inteiro de trabalho, e ainda é nos dias de hoje. O segundo grupo é
composto por aqueles que entraram às nove, ao meio-dia e às três horas da
tarde. Esses não tinham poder de barganha, e o dono não lhes ofereceu um
salário. Apenas disse que pagaria o que fosse justo, e eles foram trabalhar
confiados nessa promessa. O terceiro grupo é composto por aqueles que pegaram
no trabalho às cinco horas da tarde. A esses o patrão não fez qualquer promessa
de recompensa, em vez disso lhes deu uma ordem. Isso reflete a necessidade real
do grupo, pois foram trabalhar mesmo que recebessem uma quantia irrisória.
É na hora do pagamento que conhecemos o desfecho da
história. O patrão começou o pagamento pelos que chegaram mais tarde. Uma
atitude inusitada e provocativa, pois se ele tivesse pago aos primeiros, eles
iriam para casa satisfeitos da vida, com a sua moeda de prata no bolso e sem
tomar conhecimento do salários dos outros. São sempre os outros que nos
atrapalham, não é? Mas o dono da vinha fez questão de subverter toda e qualquer
ordem. Ele teve a coragem de pagar para esse grupo o salário integral. Imaginem
agora a generosidade desse patrão e a felicidade dos trabalhadores da última
hora.
Tamanha generosidade despertou uma enorme expectativa nos
outros, principalmente naqueles que chegaram primeiro. Eles tinham a certeza de
que um patrão tão mão-aberta pagaria, não o salário de um dia, mas o de doze
dias. Mas quando receberam apenas o salário de um dia ficaram indignados, e
fulos de raiva foram reivindicar justiça ao patrão. Nada mais do que justo, não
acham?
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