Paulo, santo protestante?

Paulo pregando, Raphaello
Somos elogiados e caluniados; alguns nos insultam, outros falam bem de nós. Somos tratados como mentirosos, mas falamos a verdade; somos tratados como desconhecidos, embora sejamos bem conhecidos de todos; somos tratados como se estivéssemos mortos, mas, como vocês estão vendo, continuamos vivos. Temos sido castigados, mas não fomos mortos. Às vezes ficamos tristes, outras vezes ficamos alegres. Parecemos pobres, mas enriquecemos muitas pessoas. Parece que não temos nada, mas na verdade possuímos tudo. II Co 6.8-10

Certa vez vi um filme em que um padre citava para um cardeal um trecho de uma das cartas de Paulo, mostrando ser equivocada a decisão tomada por esse cardeal, ao que ele imediatamente retrucou: Paulo não serve como exemplo. Paulo é santo dos protestantes. Será que Paulo serviria para ser santo dos evangélicos neopentecostais e dos simpatizantes desse movimento também? Boa pergunta! Vamos tentar respondê-la a partir do nosso texto de hoje.

Elogiados e caluniados.
Paulo já começa a nos desafiar com um ponto crítico da nossa imagem, pois a sociedade em que vivemos tem de nós conceitos bem equidistantes entre o insulto e a admiração. Para que Paulo endossasse essa nossa conduta teríamos que nos mostrar justamente com este perfil. Porém,  sermos "caluniados" mas não pelo erros que de fato cometemos, e nem "elogiados" quando somos aprovados pelo mundo e reprovados  por negligências flagrantes à mensagem do Reino de Deus.

Tratados como mentirosos, mas falamos a verdade.
Existe uma diferença bem estanque entre aquilo que o povo quer ouvir e aquilo que o povo precisa ouvir. Que mensagem seria verdadeira para o mundo de hoje? A que diz que quando uma pessoa se converte todo o seu passado é apagado e em Cristo ele pode deixar para trás os seus erros juntamente com as suas consequências? Embora seja a verdade que se deseja ouvir, a verdade do evangelho é outra bem diferente. Ele diz que primeiro tenho que reparar o meu erro junto à outra pessoa, depois então vir e dar a minha oferta, seja material ou espiritual.

Tratados como desconhecidos, mas bem conhecidos de todos.
Essa, então, nem pensar, pois vem acontecendo coisas tão bizarras nos nossos cultos hoje e condutas tão estranhas à fé cristã, que nem aqueles que são mais antigos na igreja sequer sonharam poder acontecer. O que não dizer, então, dos que nos veem de fora?  Seria esse o perfil do cristão que eles sempre conheceram? A igreja de hoje é um grande incógnita. Quando penso que ela vai agir com severidade contra as reais iniquidades do nosso país, ela se articula integralmente em torno de um protesto formal contra meia dúzia de doidos que fizeram uma passeata com um cara pregado numa cruz, que, diga-se de passagem, em nada me ofendeu, pois não vejo qualquer semelhança daquela cruz, com essa que é o ponto o fator determinante da nossa fé. A nossa cruz também deveria ser escândalo para o mundo, pois para nós ela é o poder de Deus que confronta a sabedoria desse mundo.

Parece que não temos nada, mas possuímos tudo.
Pulando para o final, vamos ver essa questão, que a mim parece ser que tem mais incoerência. Que imagem é essa que Paulo fez do cristão do seu tempo? Penso que seja a mesma imagem que fez de si mesmo. Não possuindo nada, é assim que o vejo. Caso ele possuísse algo ao final do seu longo ministério, ele iria querer se abrigar do frio com uma capa velha e surrada que esquecera em uma de suas viagens? Caso ele pudesse alugar grandes salões nas cidades em que pregava o evangelho, ele iria pedir a Deus que lhe abrisse uma porta?

Volto a perguntar: Paulo seria santo nesses nossos templos suntuosos, na prosperidade sem trabalho, na salvação sem arrependimento, nos carros e mansões caríssimas, e na fé individualista e descompromissada? 

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