Paulo pregando, Raphaello |
Certa vez vi um filme em que um padre citava para um cardeal
um trecho de uma das cartas de Paulo, mostrando ser equivocada a decisão tomada
por esse cardeal, ao que ele imediatamente retrucou: Paulo não serve como exemplo. Paulo é santo dos protestantes. Será
que Paulo serviria para ser santo dos evangélicos neopentecostais e dos simpatizantes
desse movimento também? Boa pergunta! Vamos tentar respondê-la a partir do
nosso texto de hoje.
Elogiados e caluniados.
Paulo já começa a nos desafiar com um ponto crítico da nossa
imagem, pois a sociedade em que vivemos tem de nós conceitos bem equidistantes
entre o insulto e a admiração. Para que Paulo endossasse essa nossa conduta
teríamos que nos mostrar justamente com este perfil. Porém, sermos "caluniados" mas não pelo
erros que de fato cometemos, e nem "elogiados" quando somos aprovados
pelo mundo e reprovados por negligências
flagrantes à mensagem do Reino de Deus.
Tratados como mentirosos, mas falamos a verdade.
Existe uma diferença bem estanque entre aquilo que o povo
quer ouvir e aquilo que o povo precisa ouvir. Que mensagem seria verdadeira
para o mundo de hoje? A que diz que quando uma pessoa se converte todo o seu
passado é apagado e em Cristo ele pode deixar para trás os seus erros
juntamente com as suas consequências? Embora seja a verdade que se deseja ouvir,
a verdade do evangelho é outra bem diferente. Ele diz que primeiro tenho que
reparar o meu erro junto à outra pessoa, depois então vir e dar a minha oferta,
seja material ou espiritual.
Tratados como desconhecidos, mas bem conhecidos de todos.
Essa, então, nem pensar, pois vem acontecendo coisas tão bizarras
nos nossos cultos hoje e condutas tão estranhas à fé cristã, que nem aqueles que
são mais antigos na igreja sequer sonharam poder acontecer. O que não dizer,
então, dos que nos veem de fora? Seria
esse o perfil do cristão que eles sempre conheceram? A igreja de hoje é um
grande incógnita. Quando penso que ela vai agir com severidade contra as reais
iniquidades do nosso país, ela se articula integralmente em torno de um
protesto formal contra meia dúzia de doidos que fizeram uma passeata com um
cara pregado numa cruz, que, diga-se de passagem, em nada me ofendeu, pois não
vejo qualquer semelhança daquela cruz, com essa que é o ponto o fator
determinante da nossa fé. A nossa cruz também deveria ser escândalo para o
mundo, pois para nós ela é o poder de Deus que confronta a sabedoria desse
mundo.
Parece que não temos nada, mas possuímos tudo.
Pulando para o final, vamos ver essa questão, que a mim
parece ser que tem mais incoerência. Que imagem é essa que Paulo fez do cristão
do seu tempo? Penso que seja a mesma imagem que fez de si mesmo. Não possuindo
nada, é assim que o vejo. Caso ele possuísse algo ao final do seu longo
ministério, ele iria querer se abrigar do frio com uma capa velha e surrada que
esquecera em uma de suas viagens? Caso ele pudesse alugar grandes salões nas
cidades em que pregava o evangelho, ele iria pedir a Deus que lhe abrisse uma
porta?
Volto a perguntar: Paulo seria santo nesses nossos templos
suntuosos, na prosperidade sem trabalho, na salvação sem arrependimento, nos
carros e mansões caríssimas, e na fé individualista e descompromissada?
Nenhum comentário:
Postar um comentário