A pluralidade de poderes não é conquista da democracia e
muito menos da modernidade. Os povos antigos já ficavam divididos entre os
poderes monárquicos e religiosos, isso, logicamente, quando a mesma pessoa não usurpava
os dois cargos. No exato momento em que o povo de Israel fez a opção de ser
governado por um rei, Deus instaurou a profecia naquele país. Parece que Deus estava
querendo dizer: Vocês querem um rei acima
de vocês? Então eu constituirei também profetas acima deles. Mas esta transição
não foi nem de longe um processo tranquilo e nem coerente. Algumas pendengas
muito sérias puderam ser percebidas.
Em primeiro lugar, até mesmo antes da monarquia, já havia
acontecido um impeachment dos filhos
de Samuel por corrupção: Porém
seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e
aceitaram subornos, e perverteram o direito. I Samuel 8.3 É curioso notar que a prática
mais comum nos governos do nosso país nos últimos logos anos, já era comum
antes mesmo deles se instalarem. Os cariocas têm até uma piada que diz que Cabral
mandou executar dois ladrões que estavam na sua frota flagrados em delito, e que
os enterraram aqui. Bom, segundo a famosa carta de Pero Vaz de Caminha, “esta é
uma terra que em se plantando, tudo dá”. Por conta deste incidente é que nunca
mais parou de dar ladrão por aqui.
Superado o impeachment,
os cara-pintadas voltaram às ruas de Israel para pedir um rei, e foram devidamente
advertidos dos males que os assolariam dali por diante:
1- O rei tomará os
vossos filhos e os empregará no serviço dos seus carros e como seus cavaleiros,
para que corram adiante deles. (8.11)
2- Porá uns por
capitães de mil e capitães de cinquenta; outros para lavrarem os seus campos e
ceifarem as suas messes; e outros para fabricarem suas armas de guerra e o
aparelhamento de seus carros. (8.12)
3- Tomará as vossas
filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. (8.13)
4- Tomará o melhor das
vossas lavouras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e o dará aos seus
servidores. (8.14)
5- As vossas
sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos seus
servidores. (8.15)
6- Também tomará os
vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens, e os vossos
jumentos e os empregará no seu trabalho. (8.16)
7- Dizimará o vosso
rebanho, e vós lhe sereis por servos. (8.17)
Ao ler esses textos de I Samuel ninguém poderia dizer que foi falta de aviso.
O processo de eletivo não foi diferente em absolutamente nada
ao que estamos acostumados a ver. Foi escolhido como rei o homem que era mais
alto, mais forte e mais bonito: Tinha ele um filho cujo nome era Saul, moço e tão belo, que entre os filhos de
Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima,
sobressaía a todo o povo. I Samuel 9.2 Ainda que errando no método da escolha, eles
tiveram o cuidado de observar o que nunca observamos: a vida pregressa. Não a do
próprio Saul, pois ainda era muito jovem, mas de toda a sua família, que era
pequena, humilde e de uma região pouco expressiva.
Mas o que realmente importava eram as prescrições das
obrigações que um rei deveria ter diante do povo que o escolhera. E essas
prescrições não foram ditadas por Samuel, mas por uma força bem maior que ele:
a Torah judaica. É justamente na sua
constituição maior que estas normas, embora não cumpridas, estão indelevelmente
registradas.
1- Homem estranho, que
não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti, e sim um dentre
eles. (Deuteronômio 17.15) (esta regra, no entanto, não vale para técnico da seleção
de futebol)
2- Porém este não
multiplicará para si cavalos. (17.16)
3- Tampouco para si
multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie. (17.17a)
4- Nem multiplicará
muito para si prata ou ouro. (17.17b)
5- Também, quando se
assentar no trono, escreverá para si um traslado desta lei. (17.18)
Muito embora estas prescrições pareçam comuns e
desnecessárias, elas têm em seu conteúdo algo que é bem mais importante do que qualquer
outro critério para a escolha de um governante: Isto fará para que o seu coração não se eleve sobre os seus irmãos e
não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; de sorte
que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel. Deuteronômio 17.20
Quando formos às urnas pensemos um pouco no que deu certo e
no que deu errado nas escolhas que o povo da Bíblia fez. Vamos olhar para
dentro de nós e vermos o que realmente queremos: se é o benefício imediato de
um candidato que nos prometeu algo em particular, ou bem estar comum onde não
precisemos de favores particulares. Se queremos ser governados pela pelos que
buscam benefício próprio, e que para isso não mediram despesas nas suas
campanhas, ou por aqueles que têm algo em comum conosco. Aqueles que nos
representam, ou aqueles que representam interesses contrários à nossa pátria.
Aqueles que acreditam em uma consciência mais elevada, que
peçam a sua orientação nessa hora. Aqueles que não acreditam, mas que têm a sua
consciência elevada, que invoquem o que ela tem de mais sagrado.
Bom voto.
Boas esperanças.
Boas realizações futuras.
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