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Adrastea ordenhando, Jacob Jordaens |
Numa civilização pastoril como a dos hebreus no deserto, o
leite, dom da natureza não fabricado pelo homem, é um alimento duma
importância vital. Ficou sempre sendo um dos alimentos usuais de Israel (Jz 5.25;
Pv 27.27). Ter leite em abundância era um sinal de riqueza: Jó 29.5-6 - Quando
o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos, em redor de mim; eu
lavava os pés em leite, e da rocha me corriam ribeiros de azeite. Pelo nexo com
as promessas e pelo seu emprego figurado, a palavra leite assume um sentido de
um rico simbolismo na Bíblia.
Ternura divina.
A mãe que aleita seu filho é um dos símbolos mais naturais
para exprimir uma ternura e um devotamento sem limites. Não é de admirar que
Israel haja usado essa imagem para descrever a infinita ternura e os
carinhosos cuidados de Javé para com o seu povo, especialmente no contexto da
saída do Egito e da marcha para a terra prometida (Nm 11.12). Por isso o
salmista concita o povo a abandonar-se a Deus como a criança repousa no seio da
sua mãe.
Imagem das bênçãos divinas e das promessas messiânicas.
A abundância de leite faz parte da descrição clássica das promessas.
A terra em que Israel irá entrar é muitas vezes descrita no AT como o país em
que jorra leite e mel (Ex 3.8; 13,5; Dt 6.3; 11,9; Jr 11.5; Ez 20.6 etc.): é
com as riquezas da vida nômade que se descreve “a terra fértil e espaçosa” (Ex
3.8; cf. Dt 32.12ss), o mais belo de todos os países (Ez 20.6.15). Na bênção de
Judá (Gn 49.8-12), que se abre numa perspectiva messiânica, a prosperidade
extraordinária da terra de Judá é descrita pela abundância do vinho e do leite.
Nos profetas, esse quadro de prosperidade serve para descrever
a terra ideal dos tempos futuros (Jl 4.18; Is 55.1; 60.16), é uma imagem da consolação
e da salvação messiânicas; no Cântico dos Cânticos o leite simboliza as
delícias do amor entre o Esposo e a esposa (Ct 4.11; 5.1). Em tempos de
carestia este alimento do deserto irá de novo tornar-se o alimento de base do
Emanuel e dos sobreviventes; mas a sua abundância será como que um lembrete
das promessas (Is 7.15).
Se a prosperidade é um penhor das bênçãos divinas, a falta
do leite e a desolação geral são um sinal do castigo e da maldição de Deus. Por
causa dos crimes de Israel Oséias pede a Javé que lhe dê entranhas estéreis e
seios ressequidos (Os 9.14). Na perspectiva do NT, o juízo escatológico será
tão terrível que Jesus proclama bem-aventuradas as mulheres que não estiverem
amamentando naqueles dias (Lc 23.29).
O leite dos filhos de Deus.
O Segundo Testamento fala normalmente do leite em sentido
metafórico e designa com ele o ensinamento como alimento dos filhos de Deus.
Para Paulo, que na criança vê antes de tudo a sua imaturidade, o leite dado aos
coríntios ainda carnais vem a ser a primeira mensagem cristã por oposição ao
alimento sólido da sabedoria reservada aos perfeitos (ICo 3.2; He 5.12ss).
Segundo IPe 2.2, por outro lado, o fiel nascido para a nova vida deve continuar
a desejar o leite da Palavra para crescer e chegar à sua salvação, pois ele permanece
sempre uma criança a crescer e terá sempre necessidade do leite da Palavra de
Deus. Essa Palavra é, no fundo, o próprio Cristo, como bem o mostraram diversos
Santos Padres: Bebemos o Verbo, alimento
de verdade. (Clemente Alexandrino).
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