Jesus na casa de Anás, Joséde Madrazo |
Segundo alguns bons dicionários, no contexto comumente usado,
determinante é um dos sinônimos de decisivo. Mas essa similaridade seria também
aceita no contexto bíblico? Parece-me que não, porque, durante a trajetória de
uma vida cristã eu entendo que esses são dois momentos distintos: o decisivo
seria o último movimento na escalada de vários momentos determinantes, que
culminaram naquela decisão. Mas como encontrar isso na Bíblia?
O ministério de Jesus pode muito bem nos dar esse
esclarecimento. É bem sabido que ele, por diversas vezes, confrontou a situação
política e social do seu tempo. Não somente bateu de frente com a classe sacerdotal
que exercia a supremacia no governo, como também contestou muitos da classe
emergente dos fariseus. Isso sem falar das manifestações contrárias às atitudes
dos sanguinários zelotes e sem falar também das alfinetadas dadas vez por outra
no governo de Herodes.
Devo concluir que estas foram atitudes determinantes e que,
não somente marcaram o seu ministério, como também deixaram claro o motivo para
o qual ele veio. Não estou dizendo com isso que todas as suas manifestações tiveram
esta finalidade específica. Os evangelhos estão fartos de narrativas que
colocam Jesus em situações bem corriqueiras e afastadas completamente da política.
A apresentação que faz do propósito da sua vinda, não tem implícitos esses
argumentos, embora abranja todos os segmentos da natureza humana, assim como da
natureza ambiental: Eu vim para que
tenham vida, e a tenham em abundância.
Contudo, será que poderíamos pontuar um momento que foi
decisivo na vida de Jesus. Penso que sim. Os evangelhos relatam um Jesus que participava
de festas, casamentos e jantares, inclusive com opositores declarados. Falam
também de grandes favorecimentos que prestou a inimigos patentes de Israel,
como ao centurião e a alguns publicanos, coisa que um Messias que se preza
jamais faria. Excetuando os momentos em que chorou pelo amigo Lázaro e os que
lamentava pelos pecados de Israel, não temos registro de alguma outra tristeza
sua que fosse patente. Pelo contrário. Podemos ver Jesus brincando com as
crianças e se detendo em longas conversas com uma mulher samaritana e com o
fariseu Nicodemos.
Tudo isso aconteceu até o momento em que tomou a decisão de
ir para Jerusalém. É justamente aí que podemos detectar a transposição do
determinante para o decisivo. É justamente aí que podemos perceber que tudo o
que foi determinante até então, deveria se dobrar e até mesmo ficar em segundo
plano diante do momento decisivo. Foi uma transformação tão radical que mudou
quase tudo em sua vida. Estamos falando de mudanças acentuadas nas atitudes,
nas palavras, no semblante, nas expectativas e, possivelmente, no seu sistema
orgânico, que culminou com um stress tão grande que fez com que vertesse
lágrimas de sangue.
Uma dessas coisas eu queria acentuar, não por ser mais a
importante, mas por ter sido mais a visível e, consequentemente, a mais
percebida: a sua expressão facial. O interessante neste caso é profecia sobre a
qual Jesus teria muito pouco controle, posto que uma mudança desta natureza não
pode ser simplesmente tão bem encenada e encenada por tanto tempo. Foi o
profeta Ezequiel quem prenunciou estas características do Messias: Fiz como diamante a tua fronte, mais forte
do que a pederneira; não os temas, pois, nem te assombres com o seu rosto,
porque casa rebelde são. Segundo Ezequiel, a tal cara feia que Jesus
mostrava não era para assustar os adversários, mas para por em alerta os
discípulos.
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