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Voltando para Jerusalém, autor não identificado |
Lucas 24.13-35
Texto extraído do blog Textos e Texturas do rev. Luiz Carlos
Ramos
(Ao genial amigo Carlos Alberto Rodrigues Alves, “podes crer, é incrível”, a quem atribuo muitas das “sacadas” deste texto, a propósito do Dia da Escola Dominical.)
(Ao genial amigo Carlos Alberto Rodrigues Alves, “podes crer, é incrível”, a quem atribuo muitas das “sacadas” deste texto, a propósito do Dia da Escola Dominical.)
A recuperação
Temerosos, decepcionados e incrédulos, os dois discípulos seguiam
tristes, estrada fora. A essa altura, Jesus exclamou: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas
disseram! (v. 25). Pois esses alunos tinham alguma dificuldade de
aprendizado; estavam defasados, e precisavam urgente de um programa de
nivelamento. Jesus decide, então, oferecer um programa de recuperação, ali
mesmo, na estrada. Não dá para esperar. O caso é urgente. Se os alunos não vão
à escola, a escola vai até os alunos.
Jesus ofereceu um currículo de 12 quilômetros. Até chegarem
a Emaús, aquele Professor peripatético já havia recapitulado com seus defasados
alunos tudo o que estava escrito a seu respeito, começando por Moisés, discorrendo
por todos os profetas expondo-lhes as Escrituras (cf. vs. 26-27).
Não há dúvida de que o conteúdo programático da primeira
Escola Dominical fora cristológico e essencialmente bíblico. O método dialógico
preferiu a proximidade física – o Mestre foi ao encontro do aluno, a
aula foi presencial e não a distância. Optou pela proximidade intelectual – o
Mestre, pacientemente, retoma com eles os conteúdos básicos necessários à sua
formação. E priorizou a proximidade emocional e afetiva – o
mestre falava-lhes igualmente ao coração, enquanto lhes instruía a mente, disto
os próprios alunos o atestam quando dizem: porventura
não nos ardia o coração, quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha
as Escrituras?”(v. 32).
O recreio
Ora! Toda escola que se preze tem que ter recreio. Hoje já
não se usa mais esse termo. Prefere-se “intervalo”. Quem fala em “recreio” é
gente que é do tempo quando se falava “retrato” em vez de “foto”. Tenho dois
amigos, intelectuais respeitáveis, que também preferem, como eu, o termo
“recreio”. Um deles é considerado um dos maiores educadores e teólogos
contemporâneos e se chama Rubem Alves. O outro, não tão famoso, e um pouco mais
jovem. É o filósofo e semiótico José Lima Jr. A razão de sua preferência é
simples: a palavra intervalo não diz nada a não ser um período de tempo entre
duas coisas importantes. O que significa que no intervalo a gente não faz nada
de importante. Agora, a palavra “recreio” é grávida de sentidos. O recreio
comporta o lúdico, a alegria e o brinquedo, que são todos parentes da “graça”.
Recrear-se também reporta-se a “recriar-se”. Bem, o fato é que houve recreio na
primeira Escola Dominical:
“Quando se aproximavam
da aldeia para onde iam, fez ele [Jesus] menção de passar adiante. Mas eles o
constrangeram dizendo: Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina. E
entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele
o pão, abençoou-o, e, tendo-o partido, lhes deu” (28-30).
O recreio é uma ocasião para a reconstrução da vida. E é por
isso que Jesus aceitou o convite dos discípulos no entardecer daquele dia. Caso
Jesus tivesse seguido seu caminho e rejeitado o convite dos discípulos para
repartir com eles a merenda, teria sido, provavelmente, o crepúsculo daquela
Escola Dominical primitiva.
Entretanto, em lugar de crepúsculo, a Escola Dominical teve
ali a sua aurora, “recriou-se”: “então se lhes abriram os olhos, e o
reconheceram” (v. 31). É na partilha do pão, ao redor da mesa, que acontece o
milagre da revelação. É nessa atmosfera da graça, que todo o esforço acadêmico
alcança a sua plenitude. O conhecimento supremo é consumado no gesto singelo e
gratuito da partilha do pão.
Conclusão
Mas, justamente nesse momento, acontece algo inesperado:
“ele [Jesus] desapareceu da presença deles” (v. 31). O rev. Elias Abraão,
saudoso pastor da Igreja Presbiteriana Central de Curitiba, contava que, certa
vez, numa Escola Dominical, estudando este texto com sua comunidade, resolveu
perguntar aos seus alunos, sem muita expectativa de obter resposta: O que terá
acontecido com Jesus? Mas ele não contava com uma criança que estava na classe
e que respondeu categórica: Jesus entrou dentro
deles!
Jesus entrou dentro deles… Poucos teólogos eruditos e
titulados teriam condições de fazer uma elaboração teológica tão profunda como
a que fez essa criança. Jesus não está mais entre nós para que possa estar
dentro de cada um de nós.
Assim, plenamente recreados e recriados, nossos colegas da
primeira Escola Dominical decidiram voltar, imediatamente, para Jerusalém a fim
de destrancar o curso e rematricular-se na Escola do Senhor.
E, na mesma hora,
levantando-se voltaram para Jerusalém onde acharam reunidos os onze e outros
com eles, os quais diziam: O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! Então os
dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e como fora por eles
reconhecido no partir do pão (33-35).
O Mestre está vivo! Por isso a sua escola também está viva.
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