Jesus abraça criancas, Lucas Cranach |
Antes do século XX, as informações sobre criação de filhos
eram passadas verbalmente e por exemplos de comportamento. A informação
permanecia virtualmente inalterada de geração para geração. Uma geração contava
para a outra, que contava para outra e era sempre desse jeito. Os pais criavam
seus filhos para seguirem as suas pegadas. Mas nos últimos anos nós passamos
por mudanças surpreendentemente rápidas, e as fórmulas antigas já não
apresentam mais os mesmos resultados. Todas essas tradições deram lugar à Ciência,
e as crianças passaram a ser estudadas cientificamente.
O interessante é que os resultados desses estudos, que podem
ser encontrados na banca de jornal e na livraria, são sempre contraditórios. É
um cientista diz uma coisa e o outro diz exatamente o contrário. A despeito
disso permanece a dúvida: como nós devemos agir como pais na educação dos
nossos filhos? Podemos começar definindo como devem ser nossos valores e
tendências.
Menciono como primeiro valor o seguinte: pessoas flexíveis e
adaptadas sobrevivem de maneira mais efetiva. Os pais que são assim estão
sempre avaliando seus pontos fortes e suas falhas e possuem valores próprios.
Simplesmente ajudar no crescimento dos filhos pode ser uma tarefa excitante,
mas prepará-los para a vida é uma tarefa muito difícil. Estamos frequentemente diante
de situações de raiva e de medo, e não sabemos como lidar com elas.
Todas as culturas tem um padrão de família perfeita. Na
nossa cultura a família ideal é a formada por pai, mãe e filhos, que mantêm relacionamentos
estreitos, e que estão ligados por laços fortes com os avós, tios e primos. As
famílias felizes são aquelas que têm os seus entes próximos. Quem não é assim está
sempre com vontade de estar em outro lugar. A nossa cultura considera as
pessoas que não têm uma família ideal como não muito certas. Estão fora do
nosso ideal as mães solteiras, os desquitados, os divorciados, as crianças
abandonadas e os moradores de rua. Aqui entra a tarefa dos pais: transformar
crianças em adultos capazes de funcionar independentes da sociedade. Para isso
nós já recebemos uma boa dose de informação, e vamos criar nossos filhos como
nós fomos criados.
Outra coisa importante é que não pensamos em qualquer outra
necessidade antes de termos as necessidades básicas satisfeitas. Eu não vou
pensar em segurança se não tiver o que comer. É assim o evangelho. Eu não posso
amar o próximo se eu não amo a mim mesmo. Por isso que uma das funções dos pais
é prover as necessidades básicas da família para que ela possa exercitar as
outras necessidades, como o bom relacionamento. E por fim, estas outras
necessidades acabam tornando-se básicas também, e, por vezes, mais necessárias
para a formação da criança.
Se a criança não se sente amada, nunca entenderá que deve
amar as pessoas. Pelo contrário, vai temê-las e odiá-las. Se na igreja as apresentamos
a um Deus que castiga e que manda as pessoas para o inferno, como vamos querer
que as crianças entendam o amor de Deus? Precisamos, por conta disso, classificar
os estímulos de quatro maneiras: positivos, negativos, condicionais e
incondicionais. Essa classificação nos ajuda a entender o tipo de estímulo que
estamos recebendo e o que estamos dando aos outros.
É importante que pensemos nisso porque até mesmo os
estímulos negativos são preferíveis a nenhum estímulo. Se a criança não é
criada de acordo com pensamento de que Deus é amor, ou é criada sem testemunhar
qualquer experiência transcendente com Deus, ela vai procurar ter a sua
experiência transcendente com outro ser diferente. O que não vai acontecer é
ela crescer sem experiência alguma, mesmo que essa experiência a faça infeliz,
porque é naquele lugar que ela encontrou algum tipo de estímulo para a sua
vida.
Nossas igrejas e nossa sociedade estão cheias de gente
assim. Pessoas que se sentem abandonadas, ainda que dentro de nossas
comunidades, pois foram criadas com estímulos negativos. Por isso têm medo do
diabo, têm medo de maldições, têm medo do inferno e de demônios. Preferem ter
medo a não terem qualquer outro sentimento. Pessoas que aprenderam o temor em
vez de aprenderem o amor.
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