Perseguição pode ser um elogio

Quando dentro de mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando, me ocultam armadilha... Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu. Salmo 142
Davi e Urias, II Guercino
Texto do Rev. Jonas Rezende.
Li o episódio de uma crônica de Luiz Fernando Veríssimo. Henry David Thoreau se encontrava preso por tem cometido um ato de desobediência civil contra alguma injustiça do governo norte-americano. Um amigo que foi visitá-lo condoeu-se da sua situação e foi logo dizendo, assim que o avistou: - Henry, o que você está fazendo aí dentro? Thoreau respondeu serenamente e no mesmo tom: - Meu amigo, o que você está fazendo aí fora?

É em situações como essa que eu chamo a perseguição de elogio. Porque significa que não compactuamos com a injustiça, denunciamos o erro, resistimos, pacificamente, ou não; corremos, enfim, o risco e pagamos o preço, às vezes muito alto. Assim, as perseguições e a morte de Sócrates, Jesus Cristo, Thomas More, Gandhi, Luther King e tantos outros, que somam seus nomes àquela galeria de mártires de que nos fala o escritor da carta aos hebreus, terminam por ficar para os torturados, como um involuntário elogio de seus torturadores. Ironias da História.

Essa era a situação que Davi se encontra, quando escreve o presente salmo. Abandonado por todos, escondido em uma caverna, como um bicho, caçado pelos homens que só respiram crueldade. O salmista vive uma aflição tão grande, que argumenta com Deus, como se fosse uma criança: tu conheces o meu caminho, sabes que não fiz nenhuma coisa errada. Entretanto, o rei tem consciência de está só. Apenas Deus se encontra de seu lado e pode libertá-lo. A súplica de Davi é comovente: tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao teu nome. Depois de orar, ele se abandona nas mãos divinas. Boas mãos. E vive essa paz interior que é possível, ainda no tumulto da vida.

Mas o salmista em momento algum perde a consciência de que está sendo injustiçado. Sofre porque agiu com correção.

Você sabe? Esse poema me conforta, quando me sinto incompreendido, mal interpretado. Tanta gente já passou por isso antes de mim. E saiu vitoriosa. Davi, o autor dessa página, me dá seu testemunho e, de certa maneira, me faço irmão dele no sofrimento. Acredito que o mesmo pode acontecer com você ou com qualquer outra pessoa, ao receber uma crítica injusta ou quando, por pura maldade, buscam destruir-lhe a imagem e até a própria vida. É uma amarga experiência, mas que redunda, involuntariamente, em elogio.

Você certamente conhece o Sermão da Montanha. Pois bem. Quando Jesus enumera as bem-aventuranças, ele previne s seguidores: vocês serão bem-aventurados quando os perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vocês. Alegrem-se, porque assim perseguiram os profetas que viveram há tanto tempo.

Em outra oportunidade, o mestre preparou seus discípulos até para morrer: bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor, porque descansam de seus trabalhos e suas obras o seguem.

A perseguição injusta é um elogio àquele que é fiel. Faça você também parte dessa comunidade. Não se trata de querer sofrer por masoquismo, mas do doloroso desdobramento de uma vida ética, digna e justa. Imagino o Cristo respondendo ao apóstolo Pedro, que desejava evitar-lhe a morte:

Se me tiram a cruz, não sou Jesus.





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