Naquela mesa

João no lugar de onde nunca deveria ter saído (foto Roberto Pimenta)
Estive ontem na Câmara dos Deputados para a solenidade oficial de entrega da Bíblia Manuscrita às autoridades do Estado do Rio de Janeiro. Uma solenidade que contou mais com a boa vontade dos membros da SBB do que dos parlamentares daquela casa, visto que apenas um deputado esteve presente e não por mais do que dez minutos. Tinha prometido a mim mesmo não presenciar mais este tipo de evento que visa unicamente ser simpático aos governos deste país. Mas como fiz parte da diretoria que aqui no Rio deu início a este projeto, me vi na obrigação de estar lá, e por mais uma vez testemunhar os lamentáveis desfechos. Políticos, que na tentativa de se mostrarem íntimos da Bíblia, escorregam nas suas próprias trampolinices. Pessoas ligadas à SBB fazendo declarações diametralmente opostas ao espírito daquela casa. Enfim, uma memorável perda de tempo.

É numa hora dessa que eu gostaria de ter a coragem e a autoridade do meu amigo João Wesley Dornellas que no dia 27 de junho do ano passado nos deixou. Se o João estivesse naquele plenário, no mínimo se levantaria e mostraria a toda aquela gente que a Bíblia não se presta para colocar sob holofotes quem na sua ignorância pretensiosa julga estar lhe prestando algum inestimável serviço. João simplesmente diria que para movimentar os cristãos de várias denominações em um projeto comum, a iniciativa é bastante válida. Mas diria também que para usufruirmos da principal graça que a Bíblia pode nos conferir, o que menos importa é quem escreveu seus originais, quem a compilou no passado ou mesmo no presente. Todos esses foram e continuam sendo meros instrumentos para que esta Palavra chegasse íntegra nas mãos da pessoa mais importante para Deus. Aquela pessoa para quem ela primordialmente foi inspirada: o aflito necessitado. João diria também que mais importante que todas as Sociedades Bíblicas do mundo juntas são as pessoas que leem a Bíblia e que colocam em prática os seus ensinamentos.

Aquele homem tinha coragem e autoridade para assim proceder, porque: primeiramente nunca se furtou a doar gratuitamente Bíblias a quem que dele se aproxima mostrando interesse em conhecê-la; e em segundo lugar, nela meditava frequentemente de dia e de noite. Foi o primeiro homem de marketing a incluir a doação de Bíblias em campanhas publicitárias nesse país. Sobre os seus textos discorria com a competência de um teólogo renomado. A respeito das suas mais intrincadas questões, apresentava sempre as mais claras e lúcidas respostas.

Você está fazendo falta. Na sua ausência, João, o rato subiu na mesa. Sua amada igreja hoje expõe abertamente nas redes sociais fotografias de pessoas sendo batizadas em ridículas piscinas infláveis. Promove campanhas de cura e libertação, novenas e já tem também os seus superstar gospels próprios. Está faltando você atrás daquela mesa da classe da Escola Dominical. Suas matérias nos jornais e suas publicações custeadas por você mesmo sem qualquer ajuda financeira e sem qualquer custo para os leitores, foram as últimas grandes tiragens de qualquer tipo publicado por aqui, e continuam sendo as únicas que merecem ser lidas.

Particularmente falando, você me faz muita falta. Esse blog tinha em você não somente o seu maior motivador, mas com a sua partida ele perdeu ao mesmo tempo aquele colaborador que dava o peso justo às postagens, pois era você quem acrescentava as sugestões definitivas, as ilustrações apropriadas e os argumentos incontestáveis que fizeram com que os acessos ultrapassassem a barreira dos vinte mil em pouco mais de um ano de existência.

Eu juro que tentei ir à classe da Escola Dominical depois que você se foi, mas está longe de ser a mesma coisa. Eu olhei bem para aquela mesa e me lembrei da música popular que com alguns poucos retoques poderia bem ser o hino que expressa toda a nossa saudade:

Naquela mesa está faltando ele, e a saudade dele está doendo em mim.

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