Escada de Jacó

Zigurate de Ur , da revista National Geographic Socitety (1992
Leia Gênesis 28,10-16.

Este é um pequeno trecho da história de Jacó, o terceiro patriarca da Bíblia. O trecho do Gênesis descreve a situação em que se encontrava Jacó após ter enganado seu irmão Esaú na partilha da herança de seu pai. O Jacó, o trapaceiro, jurado de morte pelo seu irmão, busca abrigo em um lugar desconhecido e assustador. Na sua agonia, entre dúvidas e temores, Jacó tem um sonho. Sonha que com a possibilidade de haver um caminho onde possa achar segurança e paz. E é disso que a Bíblia fala o tempo todo. De gente como nós que engana, que se engana e que é enganada. Gente que está sempre fugindo dos perigos e ameaças em busca de um lugar de paz. É desse caminho que trata esta meditação.

Primeiramente gostaria de destacar que Jacó viveu na Idade do Bronze. Se quisermos estabelecer um paralelo, ele é contemporâneo de Conan, o bárbaro. Assim como Conan, Jacó era de origem sumeriana. Um povo extremamente supersticioso, que vivia assombrado por deuses e demônios. Povo de homens e mulheres que praticavam cultos estranhos, faziam oferendas sinistras e realizavam sacrifícios penosos. Tudo isso com a intenção de afastar seus temores, garantir proteção aproximar-se dos seus deuses. Em meio a tudo isso, Jacó sonha com uma escada que o leva diretamente ao trono de Deus. A palavra que foi traduzida por escada tem o significado de rampa ou ladeira, mas quer configurar o acesso a um lugar elevado. 

Enquanto os seus vizinhos sacrificavam as coisas que lhes eram caras, não por poucas vezes os próprios filhos queimando-os em altares, ou seja, fazendo o inimaginável para chegarem mais perto dos seus deuses que estavam distantes e lhes tratavam com indiferença, Jacó sonha com um Deus diferente. Jacó sonha com um Deus que vai ao encontro do homem, que cria  possibilidades de acesso sem perdas nem sacrifícios. Ele sonha com um caminho suave e agradável que o levaria diretamente a Deus, onde poderia contar seus medos, expor suas ansiedades, minimizar suas dúvidas ao senti-lo perto.

Eu fico pensando na quantidade de pessoas que ainda são vizinhas de Jacó. Que ficam queimando, sacrificando, abrindo mão das coisas que lhes são caras, que fazem rituais mirabolantes na tentativa desesperada de encontrar Deus. Muita embora a fé cristã não pregue o apego aos bens materiais, ela diz que se tivermos que perder alguma coisa, que seja por algo que valha a pena. Tem um trecho de uma poesia de Vinicius que traduz bem esse sentido da fé: e se perdendo, ser-lhe doce perder.  Mas as perdas que estamos acostumados a ver não são nada doces, são, na verdade, terrivelmente amargas. E o que é pior, conduzem a perdas maiores e mais amargas ainda. Conduzem à superstição, ao medo, à ignorância, à escravidão e ao ridículo.



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