O que é JUÍZO? III

Juízo Final, Michelangelo
No Segundo Testamento. 
Em todo o Segundo Testamento a convicção de que Deus julgará a humanidade ocupa um lugar importante.

Nos Sinóticos.
Na sua exortação à penitência S. João Batista supõe a proximidade do juízo mundial (Mt 3.7; Lc 3.7); esse juízo será a revelação da ira de Deus, que entregará toda a corrupção a um fogo inextinguível; a esse julgamento só se pode escapar pela penitência: para o homem penitente o juízo toma-se a fonte da salvação eterna. Em Lc 3.10 são mencionadas, além da penitência, as boas obras, provavelmente como sendo a forma concreta em que a verdadeira penitência necessariamente se manifesta. O paralelismo entre Mt 3.2 e Mt 3.7 prova que a inauguração do Reino de Deus há de coincidir com o juízo (Mt 25.34).

Jesus torna suas as palavras de S. João (Mt 4.17; Mc 1.15), mas insiste, mais do que o Batista, nas consequências morais da conversão e nos sacrifícios que lhe são inerentes: o caminho para a vida é estreito (Mt 7.14), exige luta e abnegação (Mt 5.29; Lc 13.24), perdão e caridade (Mt 5.22; Mt 18.34; Lc 16.19-31), verdadeira justiça (Mt 5.20). Só com essas condições é possível escapar à perdição (Mt 11.20; Mt 12.41; Mt 21.31; Lc 19.13ss) e pertencer desde já ao Reino de Deus (Mt 13.38). A fundação gloriosa desse Reino, porém, só se dará pelo juízo no fim dos tempos que há de separar os bons dos maus (Mt 13.30.39. Mt 25.31-46), retribuindo a cada um segundo as suas obras (Mt 16.27). Em todos esses textos o juiz é Cristo; em outros quem retribui é o Pai (Mt 6.4; Mt 6.6; Mt 6.18; Lc 12.5; Lc 18.7), enquanto Cristo dá testemunho em favor de seus fiéis (Mt 10.32).

Esse juízo diz respeito não apenas àqueles que habitarão a terra (Lc 21.35; Mt 24.30; Mt 25.31; Mc 3.28; Mc 16.15) mas também às gerações passadas (Mt 10.13; Mt 11.24; Mt 12.41), de sorte que, como na tradição apocalíptica, a ressurreição precede o último juízo.

Atos dos Apóstolos
Em Atos e nas primeiras epístolas paulinas encontram-se as mesmas ideias. Na base de Jl 3,1, S. Pedro vê no milagre de pentecostes um precursor do grande dia do julgamento (At 2.16-21), que Rm 1.28; Rm 2.1-11 (cf. I Ts 1.10; I Ts 5,2-9) chama o dia da ira; pela penitência e pela fé no nome de Jesus ainda é possível escapar à perdição (At 2.38-41; At 3.19-21); Jesus defenderá os seus fiéis contra a ira de Deus (I Ts 1.10). Como juiz final Deus constituiu Jesus (At 10.42; Rm 2.16), diante de cujo tribunal todos terão de comparecer (II Co 5.10); por isso o dia do juízo é o “Dia do Senhor” (I Co 1.8; I Co 5.5; II Co 1,14; I Ts 5.2; II Ts 2.2); como um fogo devorador o sopro de sua boca há de aniquilar o ímpio (II Ts 1,7; II Ts 2.8). O último juízo, portanto, é considerado como o pleno triunfo de Deus sobre o mal. Nas epístolas do cativeiro esse triunfo já se realizou pela morte e ressurreição de Cristo (Cl 2.14; Ef 1,20; Ef 4.8).

Evangeho de João
João caracteriza-se pela ideia já nitidamente formulada da escatologia antecipada. Ao lado da concepção tradicional do juízo pronunciado pelo Filho do Homem no último dia, quando ressuscitarem os mortos (Jo 5.22 Jo 5.27; Jo 12.48), muitos textos declaram que o juízo já se deu (Jo 5.25; 12.31); quem não crê já está condenado (Jo 3.18; Jo 3.36); quem crê não precisa mais ser julgado; já passou para a vida (Jo 5.24). Isso é uma consequência do sentido da encarnação: Cristo não veio para julgar o mundo (Jo 3.17; Jo 12.47), mas para dar a vida aos mortos (Jo 3.17; Jo 10.10) e para iluminar os que andam nas trevas (Jo 12.46). Por isso, quem se recusa a crer nele condena-se a si mesmo; fechou para si o caminho para a luz e a vida.

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