A fé dos nossos pais


A minha história de indignação contra a aquisição do caráter neopentecostal nas igrejas cristã tradicionais ontem ganhou mais um capítulo. Eu que já andava desiludido, e que até considerava esta luta perdida, ao ver o avançado processo de queda vertiginosa do conceito que gozava entre as demais denominações a igreja em que fui criado. De ver também a crescente evasão de membros, principalmente de novos convertidos, para denominações que se projetam na mídia como mais evidentes ou mais espiritualizadas.

Minha indignação, no entanto, tem contornos mais amplos. Passa também pelo condicionamento exclusivo de professores da mesma denominação nos seminários teológicos, quando não acontece o fechamento total de suas instalações. Pela ordenação de pastores desprovidos de condições mínimas para ascenderem ao ministério, e depois da promoção destes mesmos pastores aos patamares mais graduados na hierarquia da igreja. Pastores que com o diploma mal tirado de Teologia nas mãos, não optaram por fazer um curso de extensão na área para a qual se julgaram vocacionados. Não. Normalmente cursam uma faculdade de direito, de administração ou de outra graduação que não tem diretamente nada a ver com o ministério pastoral. Indicando isso, qual era o seu verdadeiro sonho de realização profissional.

Por fim, mas não menos importante, passa pelo sucateamento das instalações da própria igreja local. Onde ontem tinha um órgão, tem hoje um teclado; onde havia no passado um conjunto coral, tem um ministério de louvor acompanhado de perto por um grupo de coreografia. Onde imperava absoluta a Escola Dominical, existem agora células dirigidas por uma pessoa mal informada sobre os propósitos do evangelho. Isso sem falar da extinção das sociedades de faixas etárias distintas, onde cada membro aprendia e se exercitava nas funções de liderança que mais tarde iriam utilizar na vida pública ou mesmo na igreja.

Há praticamente dez meses em Aracaju, tenho frequentado quase que anonimamente uma igreja tradicional. Uma igreja que não tem, pelo menos até onde pude observar, cantores gospels; formação de levitas, profetas ou profetizas que se levantam durante as cerimônias de culto, símbolos pagãos ou próprios de outros credos religiosos; instrumentos musicais que não costumavam fazer parte do modelo tradicional de igreja. Acreditem, não tem nem bateria!

Uma igreja que possui um púlpito em que o único destaque é dado a uma Bíblia, que, pelo modelo de inscrição, parece já estar ali há muito tempo; que possui pelo menos quatro grupos corais; uma organista que prima pela simplicidade e pelo zelo com que acompanha os cânticos congregacionais; uma igreja que canta hinos de um hinário comum a todos os membros; e cujo pastor do alto do púlpito profere mensagens duríssimas de apelo ao arrependimento e de encorajamento à fidelidade a Deus e a sua Palavra.

Como disse no começo, o novo capítulo da minha história se abre com esta igreja adquirindo a propriedade vizinha. Ou seja, sem promessas de cura, sem anúncio de milagres e sem pregação de prosperidade, esta igreja avança para a verdadeira prosperidade: ampliar as suas instalações que se tornaram pequenas diante do crescimento do número de membros que lá prestam culto e dos alunos e classes da Escola Dominical.

Este é o motivo da minha alegria: constatar que o modelo antigo ainda é o que funciona. Enquanto a maioria das igrejas tradicionais que se pentecostalizaram, e que agora não dispõem de recursos sequer para se se manterem, saber que existem ainda os sete mil que não dobraram os seus joelhos a Baal.

Meus parabéns ao pastor e à sua igreja. Vocês são a prova cabal de que o evangelho não premia competência, nem esforço e muito menos desempenho. O bom e velho evangelho continua privilegiando mesmo é a fidelidade, tal como nos ensina o antigo hino:
Não é dos fortes a vitória
Nem dos que correm melhor
Mas dos fiéis e sinceros
Que seguem junto ao Senhor.

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