Autoridades e autoridade

Assim diz o Senhor ao Seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita. Isaías 45.1

Que eles louvem a Deus, gritando bem alto, com espadas afiadas nas mãos para derrotar as nações e castigar os povos; para prender os seus reis  e as suas autoridades com pesadas correntes de ferro. Salmos 149.6-8

O conceito de autoridade na Bíblia pode ser considerado no mínimo ambíguo. Paulo quando escreve aos romanos, diz: Todos devem sujeitar-se às Autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas (Rm 13.1). Este é um texto que tem um peso significativo, pois foi endereçado à igreja que ficava no centro do poder de um dos impérios mais cruéis e desumanos que humanidade já conheceu. E é também um texto que se torna curioso, porque este apóstolo não era conhecido por respeitar dessa forma as autoridades, principalmente judaicas, do seu tempo. Estaria Paulo, pois, ratificando o poder dos Cesares?

O nosso texto base de hoje traz em seu contexto um conteúdo bem antagônico ao proposto por Paulo. Ele diz que o povo de Deus está municiado de uma espada de dois gumes, em uma tradução e afiada na que estamos usando, para castigar e prender reis e autoridades.
A menos que o que o Primeiro Testamento defina como autoridade algo diferente do que entende o Segundo, estaremos nós diante de um  grande impasse. Afinal, devemos marcar a nossa presença nesse mundo respeitando ou prendendo as autoridades constituídas?
A mim me parece que a diferença básica recai justamente sobre o conceito de autoridade. Como sabemos que o hebraico bíblico não é muito afeito a conferir predicados, o próprio Jesus se recusou terminantemente a ser chamado de bom mestre, isto porque a palavra deveria conter a plenitude do seu significado genuíno. Por exemplo: mestre é aquele que ensina coisas boas e úteis aos seus discípulos. Se assim procedesse a palavra mestre não precisaria ser seguida do predicado bom, porque todo aquele que assim não procede não tem porque ser chamado de mestre. O mesmo raciocínio deve ser aplicado ao conceito de autoridade. Autoridade deve ser assim chamado o governo que é justo e que governa para o povo. Caso contrário o termo autoridade não lhe deve ser conferido.

Seguindo uma outra linha de raciocínio atentemos para o que nos disse o reformador João Calvino: Quando Deus quer julgar uma nação ele a dá governantes ímpios. Aqui pode residir o cerne de toda a questão ou o ponto de convergência entre o Antigo Testamento e Paulo. Para Calvino o que está em julgamento permanente diante de Deus não são propriamente os governos e sim toda a nação. Não são os seus governantes e sim o povo, porque a este Deus lhe confere a autoridade providencial.

A minha indignação contra líderes religiosos que manifestam publicamente serem favoráveis a um governo e avesso a outro continua em altíssimo grau. Não fomos chamados para fazer apologia a partidos ou governantes e sim para converter o povo aos caminhos do Senhor de todos os governos e todas as nações.

Esse ponto de convergência deveria também nos fazer refletir sobre o tipo de autoridade que devemos respeitar e a que devemos corrigir com todas as armas com as quais Deus nos municiou. Lembremo-nos de que no passado Deus guiou seu povo dessa maneira. Ele não se furtou em lançar mão de governos tiranos para corrigir o seu povo. Nabucodonosor e Ciro são chamados na Bíblia de servos de Deus e, conseqüentemente, de Messias. Mas também não nos esqueçamos de que estes mesmos governantes sofreram pesado juízo sobre as suas condutas excessivas.


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