Agostinho, o santo universal

Vivamos decentemente, como pessoas que vivem na luz do dia. Nada de farras ou bebedeiras, nem imoralidade ou indecência, nem brigas ou ciúmes. Romanos 13.13
Santo Agostinho e Santa Mônica, Assereto Gioachino (1600-1649)
Mais uma vez, a carta de Paulo aos Romanos influiu decisivamente na História da Igreja. Assim como mais tarde aconteceu com Lutero e John Wesley, Agostinho teve a sua vida transformada a partir da leitura deste pequeno trecho das Escrituras. Apesar da casa do bispo ser um local propício; apesar da estranheza da ordem que na voz de uma criança lhe dizia: pegue e lê; apesar da Bíblia estar aberta no texto no texto acima; as circunstâncias da sua conversão serem as mais inusitadas, mais marcante ainda foram as suas palavras após a leitura: Eu não pude ler mais. Nem precisava ler mais. Porque num instante, como se fosse uma luz brilhante, uma segura entrou no meu coração e toda a escuridão da minha vida desapareceu. Minhas dúvidas desapareceram.

Que forças podem transformar um anônimo beberrão em uma das maiores celebridades do pensamento filosófico da história da humanidade? Que luz é essa que tem o poder de transtornar tão radicalmente a vida de quem já tinha um destino trágico previsivelmente traçado? A quem chame de carma, ou mesmo de feliz coincidência, mas quem é cristão não pode atribuir a outra coisa, senão ao poder da oração. Porque a transformação de Agostinho não começou no jardim da casa do bispo Alipius e nem mesmo na hora em que ele ouviu a voz da criança, ou quando se deparou com a Carta de Paulo aos Romanos. A sua conversão começou quando as lágrimas começaram a escorrer no rosto de sua mãe, quando em prantos não cessava de dirigir a Deus fervorosos pedidos em favor deste filho, em oração.

Tão mais convincente que a fase posterior da conversão de Agostinho, foram as primordiais orações de sua mãe. Não é possível que um filho de tantas lágrimas se perca. Estas foram palavras de consolo dirigidas a Santa Mônica, que incansavelmente, há dezessete anos, orava pela conversão de seu filho. Foram as palavras que a sustentaram na firme convicção de que o perdido filho Agostinho, a salvação de Deus também iria alcançar. Muito mais eficaz do que o anúncio descompromissado de absurdas promessas, o foco na razão de uma fé lógica pode dar ao sofrido coração uma esperança sólida que não se esvai com o passar do tempo. Mais tarde Agostinho vai reconhecer o poder que estava contido nas lágrimas do coração aflito, e vai dizer: Com o coração se pede. Com o coração se procura. Com o coração se bate e é com o coração que a porta se abre. Abriu-se para ele de forma completamente inesperada, mas que também completamente atingiu o seu objetivo, pois não voltou para Deus vazia.

É muito provável que Agostinho não tivesse entendido bem o que lia naquele momento, mas uma coisa ele sabia: aquele seu momento de fé, ainda que insipiente, era mais do que suficiente para iniciá-lo na caminhada da fé. Agostinho percebeu tão bem este momento que o traduziu mais tarde: Se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue.

Mas aquela fé cresceu, e cresceu a ponto afirmar com todas as letras: Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser. Não se pode dizer que a folha da história pregressa da vida de Santo Agostinho fosse exatamente branca, mas este é um dado que para a fé cristã não conta.

Por todas essas razões, mas principalmente pela poderosa ação de Deus na sua vida, não pode haver uma denominação cristã séria que não considere Agostinho de Hipona um dos três maiores pensadores do Cristianismo, que não louve a Deus por ter separado para si esta mente brilhante que fielmente soube traduzir a sua mensagem, e que, consequentemente, não reconheça que, ao lado de Paulo, Pedro e João, ele foi dos grandes santos da Igreja.

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