Sinais sabáticos que curam I

Ícone da Igreja Cristã primitiva, em Dura Europos
Então, lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. Imediatamente, o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar. E aquele dia era sábadoLeia João 5: 1-18
Texto do rev. Edson Fernando, pastor da Igreja Cristã de Ipanema.

Como entrar na imensidão desse texto? O poço, com todo o seu simbolismo; os trinta e oito anos de paralisia daquele homem, e tudo o que isso dá a pensar; a ênfase de João no conflito de Jesus com a tradição: o problema da cura no sábado. Como fazer uma homilia ou um sermão sem o recurso imprescindível do estudo deste lindo texto verso a verso? Quando olhamos para a estrutura deste terceiro dos sete grandes sinais em torno dos quais está construído o texto joanino, saltam aos olhos algumas coisas. E talvez aqui esteja uma chave de entrada no texto.

Jesus sobe para Jerusalém para a comemoração de uma festa. Mas, que festa é essa? A Páscoa, a Festa dos Tabernáculos, a festa da dedicação do templo? Será que esta indeterminação é deliberada, estando a serviço de uma espécie de ironia joanina? Será que a festa a que João se refere é o próprio sábado? Por que não? O sábado é o grande horizonte do texto. Ele está no centro da narrativa. Ele é o recheio desse sanduíche de duas partes. O encontro de Jesus com o desvalido nas cercanias do poço e o seu reencontro com o desvalido no templo. Entre esse dois encontros aparece a questão do sábado.

E era dia de sábado. Esse dia era sábado. É sábado!

Qual a ironia? As lideranças censuram aquele homem por carregar o leito, mas não reagem diante do fato da cura propriamente dita. Nos sinóticos, todos ficam maravilhados. Aqui não, ignora-se o milagre, o miraculum, o maravilhoso. Aqui a presença da luz não provoca admiração, admiraculum, espanto, abertura ao maravilhoso, ao sublime. Então eles dizem: Ele curou no sábado! Amarrados por uma compreensão literal, legalista, apequenada do princípio judaico do shabatt. É como se João dissesse: É sábado!!! Dando a entender que tal expressão revela não apenas a liberdade de Jesus diante da lei e da tradição, mas revela também a ideia do sábado como plenitude da criação, a plenitude de toda busca humana, o espetáculo maravilhoso da presença de divina em tudo e em todos.



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