Aprendendo com os solavancos

Aos justos nasce luz nas trevas... não será jamais abalado... e a sua justiça permanece para sempre. Salmo 112
Elias na caverna, Heather Theurer (?)
Texto do livro Salmos para o Espírito do Rev. Jonas Rezende.
Jó era um homem que parecia um pequeno burguês de Gorki. Sua vida e seus negócios seguiam muito bem. Uma espécie de oportuno biombo de respeitabilidade social fazia dele um cidadão, de que se diz que está acima de qualquer suspeita. Mas essa vidinha, que daria um bonito cartão postal, é sacudida por um verdadeiro tornado que parece não deixar pedra sobre pedra, a tudo abala desde os alicerces. Seria o fim? Pois bem, o livro bíblico que narra as suas desventuras termina com um depoimento de Jó, em forma de oração. Senhor, antes eu te conhecia apenas de ouvir dizer, mas agora os meus olhos te viram.

O salmo 112 está diante de você. Leia-o com atenção e vai perceber, na repetida comparação que o Saltério faz entre o destino do homem que ama a Deus e os que são dominados pela injustiça, consequências inevitáveis. Diz o salmista que o desejo dos perversos perecerá, mas aos justos nasce luz nas trevas.

Nasce luz nas trevas. Isto é, as próprias tormentas e solavancos, como aconteceu na vida e Jó, trazem lições que tornam ainda mais bela a existência dos homens de bem.

Rubem Alves, teólogo psicanalista, nos ajuda a entender o papel das crises que sobrevêm a todos os seres humanos, quer tomados como pessoas, quer vistos na dimensão social.

E o sábio, que conto entre meus bons amigos, nos ensina que de nada adianta querer localizar um bode expiatório para responsabilizá-lo pelas crises que, em última análise, nascem de todos nós, uma vez que estamos todos envolvidos.

Também é inútil e até contra producente quere encontrar uma espécie de messias que nos retire do maldito olho do furacão. Os falsos messias estão sempre de plantão nessas horas sombrias, não para nos ajudar ou simplesmente para caminhar ao nosso lado nas tormentas. Os falsos messias usam as crises desejando apenas, dentro da vigente mentalidade desumana, tirar vantagem das desgraças alheias.

O que nos resta então fazer, quando somos assaltados pelas tribulações? Em primeiro lugar, é importante não perder a calma e sobretudo a esperança. A crise abala e machuca, mas aos justos, como assegura o salmista, nasce luz nas trevas. O chão revolvido se prepara para receber as sementes e produzir fartas colheitas.

Mas, veja bem. O homem sábio e sensível é aquele que busca entender a mensagem que chega no bojo das crises. Junto com as tribulações, há sempre um oportuno recado para as pessoas e os povos. Um antigo hino nos ensina:

Quando a tempestade ruge com seu feroz bramir,
Quando nas nuvens se acumulam raios mil a despedir,
Do trovão, o som tremendo faz-se ouvir, e com pavor,
Mas na voz da tempestade soa a tua voz, Senhor.


Aos justos nasce luz nas trevas.

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